OPERAÇÃO MÃOS LIMPAS
Perdi minha bola de exercícios. Quer dizer, alguém da casa a utilizou para outros fins, principalmente porque para criança e adolescente uma bola é sempre uma bola. E por mais que a deixe em local determinado, sempre que necessito não mais está lá. E olhem que eram quatro, de cores diversas, cada qual com sua resistência específica. A que deixara no carro sumiu faz uns quinze dias, depois de pegar o carro no lava-jato. Na dúvida, não os culpei, mas ficou por isso. E as que ficam aqui em casa foram se perdendo nas brincadeiras, sobrando somente a de cor verde, justamente a que mais gosto, por ser a de resistência mais forte. Geralmente a utilizo na madrugada, quando as articulações da mão direita estão doloridas e a mão já recusa a se abrir com galhardia. E a situação já está próxima de uma tendinite, inflamação causada pelo excesso de repetições de um mesmo movimento, a malfadada LER – Lesão por Esforço Repetitivo. Essa síndrome de dor regional vem se intensificando com o passar dos anos. Primeiro, que utilizo o carro diariamente e continuamente estou com a mão fechada na marcha, seja utilizando-a ou apoiada como descanso e como já tem o ditado que diz: “o costume do cachimbo deixa a boca torta”, que a mão já fica logo mal acostumada. O carro hidramático, quem dera, ainda está só na paquera, apesar de sua ampliação em marcas e modelos mais acessíveis. E é tanto mau costume com o uso da mão direita no dia a dia que até nesses tempos bicudos, mal os filhos se aproximam, a mão de imediato se retrai, fechando-se quase por completo, nem bem o pedido de dinheiro fora esboçado.
E assim, depois de mais um dia estafante, estou novamente em casa. E após um banho relaxante e já com o estômago forrado, vou de encontro ao amigo computador, nesse vício prazeroso e perigoso, onde não utilizamos de postura ergométrica tão exigida no trabalho; e o mouse empunhado é esse mesmo que já leva minha mão direita a ficar naquela posição incomodativa, nunca a lembrar de adquirir um desses modelos alternativos a me aliviar contínua dor. E hoje essa mesma dor se manifestou mais cedo, pouco depois das dez. E foi justamente nessa pausa do descanso merecido em busca da tal bola verde, a imaginar minha mão sem a condição de abrir-se por completo, que vi uma cena na novela “Viver a Vida”, da rede Globo: uma bela e rica personagem chega à casa de amigos e mal a empregada abre a porta, dirige-se de imediato para a mesa onde está sendo servido o café, senta-se, dá um beijo festivo na amiga mais próxima e serve-se das iguarias. Mas, será que faltou ou sobrou alguma coisa? Seria a bolsa discreta que colocou no colo ou a falta do cumprimento aos outros integrantes do mesmo ambiente? Nada disso, amigos! E os convido, justamente hoje, a iniciarmos uma vigilância nas programações televisivas e confirmarão o que já descobri há muito: atores de renome ou não, não importando a idade, mesmo em cenas a exigirem um mínimo de higiene, não lavam suas mãos! Nunca prestaram a atenção? E não importa a emissora. Entram em quartos de enfermos, em hospitais ou residências, chegam da rua, pegam em dinheiro, se tocam e se beijam, enfim, em qualquer cena, nunca lavam as mãos.
É importante enfatizar que a maioria das doenças poderia ser evitada com o simples ato de lavar corretamente as mãos. Por isso a importância de se mostrar essas cenas continuamente, principalmente em novelas, onde milhões de pessoas de todos os níveis sociais acompanham diariamente, em horários diversificados. E é bom lembrar que além de prevenir uma série de doenças transmissíveis, esse ato é considerado o princípio básico da higiene pessoal. Para o planeta a importância de lavar as mãos é tamanha que ano passado a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a campanha “Salve vidas: limpe suas mãos” para incentivar a população mundial a fazer esta higiene adequadamente. E ninguém viu o governo brasileiro enaltecendo tal campanha, mesmo com o advento da gripe H1N1. E se algum de vocês está surpreso, dados da própria OMS indicam que a maioria das pessoas não lava as mãos corretamente por preguiça ou ignorância. Minha mão direita pode até se fechar mais ainda com a inflamação do tendão, mas tenham plena certeza que estará sempre limpa, igualmente a esquerda, e continuamente a apontar aqueles que podem e deveriam contribuir com uma melhor educação da população.