A Arte de amar
A arte do encontro cobra , por si só , incontáveis desencontros. Nos desencontramos de nós mesmos quando encontramos alguém, quando a presença de uma pessoa diferente de nós se torna tão necessária e revigorante que muitas vezes esquecemos de nós mesmos , e passamos então a ser e a pensar o outro.
Desencontramos a nós quando não enxergamos no outro as diferenças e as falhas; nossos olhos apenas divisam a perfeição absoluta que imaginamos existir. Somos faltosos com nós mesmos quando deixamos simplesmente de viver nossas próprias vidas e passamos a viver a do outro, quando nossos desejos e vontades são sufocados , quando nosso objetivo passa a ser somente a satisfação e a manutenção dos desejos e vontades do outro. Nos esquecemos que para ser um tem que ser dois, e que somente os dois juntos se tornam um. Anulamos nossos desejos por força do querer agradar, e nem nos damos conta de como isso faz mal, o quanto isso nos anula.
Viver o outro deve ser uma entrega absoluta mas jamais insana . Amar é simplesmente aceitar as diferenças,as falhas e não obstruir o caminho da lucidez e da sensatez, ainda que esse sentimento seja forte e urgente.
Não se pode amar, na sua forma mais plena e pura o que não se conhece, e conhecer-te a ti mesmo nessa hora se torna o primordial caminho para se abrir espaço para tão nobre sentimento.
Amamos o desconhecido e nos entregamos a ele como insano sentimento quando na verdade ainda somos crianças , e nem nos damos conta disso.
Quando finalmente nos deparamos com a verdade escancarada do amor à nossa face, então verdadeiramente amamos na totalidade , amamos inteiro e nos expomos , como seres cristalizados pela magia lúdica do simples olhar desconcertante , do beijo roubado inesperadamente , da saudade , da presença necessária no âmago da alma.
E então amamos realmente.