OS CAFÉS DE INVERNO NA ESPLANADA!
Era Inverno. Um Inverno igual a todos os outros Invernos: escuro, chuvoso, frio, desconfortável.
E como em todos os Invernos o achámos mais frio, mais chuvoso, mais escuro, mais desconfortável.
Os humores dos meus familiares e amigos azedaram.
Uma das minhas amigas passou a usar o termo "que seca" a todos os dez minutos deste Inverno que ela achou demasiado longo. Que seca, digo eu, estar com ela todos os dias a beber o cafézinho depois do almoço!
Não, não digo não. Para ela é que é tudo uma seca, não para mim.
Por norma e desde há uns anos a esta parte nos juntamos para o ritual do café.
O grupo já existia antes da minha chegada a este bairro lisboeta; caí-lhes do céu nas suas chávenas do café, por não ter unhas; fui "adoptada" por uma delas porque um dia me sentei à sua mesa para almoçar estando o restaurante apinhado.
Foi simpatia à 1ª vista. - "Posso sentar-me?" - "Com certeza!" - resposta dada sem hesitações. E assim tem sido: com o hábito de almoçarmos juntas, passei a ir também ao café com o grupo.
O café é tomado numa esplanadinha montada no passeio pois todos/as somos fumadores e por isso, sem direitos. Os fumadores agora não morrem de problemas causados pela nicotina mas sim de hipotermia!
Na esplanadinha bebe-se o café, fuma-se e comenta-se desde a política ao estado de saúde dos netos. Eu calo-me. Não gosto nem percebo de política e netos não tenho.
Além do frio, também temos apanhado chuva!
No entanto o Inverno foi dando lugar a uns dias mais amenos, mais solarengos deixando adivinhar já a Primavera.
-Que seca! Agora temos o sol a bater-nos nos olhos! - Queixa-se a tal outra minha amiga!
Mas ainda era Inverno quando o grupo do café ganhou novo elemento. Amigo de infância da que me adoptou, imediatamente se integrou. Jornalista de profissão, sempre a par das últimas dos nossos queridos governantes, principalmente do nosso querido 1º Ministro! Muito se aprende à mesa de um café... Tem sido um manancial, este elemento!
E já o Inverno se despedia chegou-me do estrangeiro um amigo muito querido que passou a ir também ao café. Fumar não fuma mas, por solidariedade, aguentou vento e chuva na esplanada.
O jornalista e ele simpatizaram. Falam um com o outro e não se entendem pois o meu amigo além de não dominar o português é surdo como uma porta! Mas não desistem de falar! Já não falam um com o outro mas sim um para o outro! E nós, os outros, encantados a seguir aquela batalha insana! E ao fim de uma semana tanto um como o outro achou que o outro era encantador!
Na véspera da partida do viajante, preparo um jantar de despedida aqui em casa para o qual convido não só os meus mais chegados como a minha "mãe adoptiva" e família como o jornalista. Conversas cruzadas como é natural quando está muita gente e um pobre estrangeiro a tentar seguir qualquer coisa que lhe desse uma pista do que se passava na sala!
O jornalista confessa à saída: - "É uma personalidade digna de figurar num romance que hei-de escrever! É fascinante!" - O meu amigo chega à conclusão de que o jornalista é muito simpático embora não tenha percebido nada do que ele disse durante toda a semana e, principalmente durante o jantar!
Fantástico, penso eu!
E trocaram endereços electrónicos e fizeram promessas de se escreverem e dar notícias um ao outro.
Já o Inverno partira e o meu amigo também, e chegara a Primavera quando, na esplanadinha do café se comentou a passagem dele pelo nosso grupo e também o jantar de despedida.
-Que seca! Ter de estar com uma pessoa que não entendemos e não nos ouve! - disse a tal amiga "simpaticamente"!...
Tais são os estranhos caminhos que nos levam à simpatia e à amizade...
Beijinhos,
Era Inverno. Um Inverno igual a todos os outros Invernos: escuro, chuvoso, frio, desconfortável.
E como em todos os Invernos o achámos mais frio, mais chuvoso, mais escuro, mais desconfortável.
Os humores dos meus familiares e amigos azedaram.
Uma das minhas amigas passou a usar o termo "que seca" a todos os dez minutos deste Inverno que ela achou demasiado longo. Que seca, digo eu, estar com ela todos os dias a beber o cafézinho depois do almoço!
Não, não digo não. Para ela é que é tudo uma seca, não para mim.
Por norma e desde há uns anos a esta parte nos juntamos para o ritual do café.
O grupo já existia antes da minha chegada a este bairro lisboeta; caí-lhes do céu nas suas chávenas do café, por não ter unhas; fui "adoptada" por uma delas porque um dia me sentei à sua mesa para almoçar estando o restaurante apinhado.
Foi simpatia à 1ª vista. - "Posso sentar-me?" - "Com certeza!" - resposta dada sem hesitações. E assim tem sido: com o hábito de almoçarmos juntas, passei a ir também ao café com o grupo.
O café é tomado numa esplanadinha montada no passeio pois todos/as somos fumadores e por isso, sem direitos. Os fumadores agora não morrem de problemas causados pela nicotina mas sim de hipotermia!
Na esplanadinha bebe-se o café, fuma-se e comenta-se desde a política ao estado de saúde dos netos. Eu calo-me. Não gosto nem percebo de política e netos não tenho.
Além do frio, também temos apanhado chuva!
No entanto o Inverno foi dando lugar a uns dias mais amenos, mais solarengos deixando adivinhar já a Primavera.
-Que seca! Agora temos o sol a bater-nos nos olhos! - Queixa-se a tal outra minha amiga!
Mas ainda era Inverno quando o grupo do café ganhou novo elemento. Amigo de infância da que me adoptou, imediatamente se integrou. Jornalista de profissão, sempre a par das últimas dos nossos queridos governantes, principalmente do nosso querido 1º Ministro! Muito se aprende à mesa de um café... Tem sido um manancial, este elemento!
E já o Inverno se despedia chegou-me do estrangeiro um amigo muito querido que passou a ir também ao café. Fumar não fuma mas, por solidariedade, aguentou vento e chuva na esplanada.
O jornalista e ele simpatizaram. Falam um com o outro e não se entendem pois o meu amigo além de não dominar o português é surdo como uma porta! Mas não desistem de falar! Já não falam um com o outro mas sim um para o outro! E nós, os outros, encantados a seguir aquela batalha insana! E ao fim de uma semana tanto um como o outro achou que o outro era encantador!
Na véspera da partida do viajante, preparo um jantar de despedida aqui em casa para o qual convido não só os meus mais chegados como a minha "mãe adoptiva" e família como o jornalista. Conversas cruzadas como é natural quando está muita gente e um pobre estrangeiro a tentar seguir qualquer coisa que lhe desse uma pista do que se passava na sala!
O jornalista confessa à saída: - "É uma personalidade digna de figurar num romance que hei-de escrever! É fascinante!" - O meu amigo chega à conclusão de que o jornalista é muito simpático embora não tenha percebido nada do que ele disse durante toda a semana e, principalmente durante o jantar!
Fantástico, penso eu!
E trocaram endereços electrónicos e fizeram promessas de se escreverem e dar notícias um ao outro.
Já o Inverno partira e o meu amigo também, e chegara a Primavera quando, na esplanadinha do café se comentou a passagem dele pelo nosso grupo e também o jantar de despedida.
-Que seca! Ter de estar com uma pessoa que não entendemos e não nos ouve! - disse a tal amiga "simpaticamente"!...
Tais são os estranhos caminhos que nos levam à simpatia e à amizade...
Beijinhos,