O Avião, Os Yanomami e o Crescimento da Alma

*LCdeAbreu - Repórter de Televisão em Roraima, extremo norte do país.

Mais uma viagem ... e de avião ! Não sei vocês, mas eu, DETESTO !

A questão é um terrível mal estar provocado pelos solavancos no ar e aquele espaço diminuto no interior da aeronave, geralmente os conhecidos Papa Tangos (PT), essa combinação revira o estômago. Só que, como dizem os militares, missão dada é missão cumprida! E lá fui eu e o repórter cinematográfico Miro Lopes, que por sinal é um apaixonado por aviões, para Surucucus na Terra Indígena Yanomami.

Para suportar o trajeto de uma hora e quarenta minutos fecho os olhos na subida e só abro a poucos metros da pista de destino, isso, é claro, devidamente dopado por dois comprimidos para enjôo.

Era o lançamento da Campanha de Vacinação das Comunidades Indígenas das Américas, em Roraima a meta é vacinar nos próximos meses 52 mil índios.

Ver os yanomami é sempre um privilégio, digo isso, porque o modo de vida simples deles nos faz repensar em muito dos nossos valores. A simplicidade é tanta, que uma gripe pode exterminar uma aldeia inteira. Por isso a imunização é importante.

Quando falo na simplicidade dos yanomami viajo as entranhas dos sentimentos e emoções mais puros da nossa alma, uma jornada ao tempo em que sorrir, brincar, chorar, entender, aprender, por si só, eram valores suficientemente satisfatórios para se viver.

Quanto mais “evoluímos” mais nos afastamos daquilo que é essencial, “o essencial é invisível aos olhos”, e o “avançar” nos empurra a criar novas necessidades, energia elétrica, automóveis, computadores, televisão. Serão essas reais necessidades? Não seria possível viver sem elas?

Não prego a involução, pelo contrário, o conhecimento levou-nos a salvar vidas, antes perdidas, invenções nos trouxeram os benefícios de uma vida mais moderna, não é isso! O que prego é a evolução do ESPÍRITO HUMANO!

É ...isso mesmo... a modernidade, por si só, não nos traz o crescimento pessoal, tal empreitada de desenvolvimento do SER, e não do TER, requer uma disposição moral que vai além do alicerce material.

Pés descalços, pouca roupa, cabelo parcialmente raspado, nada disso, que numa avaliação rápida poderiam ser características “negativas”, foi suficiente para impedir o indiozinho de sorrir! Isso porque na vida dele o que importa é a família, os amigos, a natureza e os sentimentos que os envolvem.

Um olhar diferente sobre a vida!

Você seria capaz de abdicar da capacidade de amar, de fazer amigos, de ser feliz, de sentir saudade, de aprender?

Você seria capaz de abdicar do seu carro, do celular, da televisão, da internet?

A resposta, talvez, possa ser simples. Na verdade, não precisamos abdicar de nada disso, o que precisamos é focar no que realmente importa.

E o que realmente importa?

Isso ... só você pode dizer! Só não esqueça do sorriso do índio!

LCdeAbreu
Enviado por LCdeAbreu em 07/06/2010
Código do texto: T2305294
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