ESCREVER O QUE?

Dia desses, num desejo compulsivo de escrever, parei diante de minha inspiradora janela, peguei papel e caneta e tentei escrever alguma coisa, qualquer coisinha que fosse... Esse meu vício, que comparo a àquela tragada habitual após o almoço, me deixa ansiosa diante de um papel em branco. Rabisco, começo uma frase, rabisco novamente, nada. Tento lembrar de algo interessante que tenha acontecido naquele dia, naquela semana, naquele mês pelo menos, mas nada. Nenhum fato que valha a pena ser escrito. Quem sabe seja passageiro o que esteja sentindo?

Deixo para o outro dia. Mesmo ritual. Nada. Com certeza, é uma fase que vai passar. Melhor não forçar. Guardo o papel e vou caminhar.

Dia de sol, calor em pleno inverno, já nos acostumamos. Pessoas nas ruas, dia normal. Algumas obras no centro da cidade, vidas em movimento, crescimento. Ainda nada me inspira. Estarei me perdendo? Dizem que caminhar incentiva a criatividade. Volto para casa a pé, em minha mente novas idéias se misturam às velhas, fatos recentes se harmonizam com os do passado. Começo a perceber que os vazios às vezes colaboram, porque nos faz sair de casa, ou de nós mesmos, quem sabe.

Estou aqui escrevendo, sobre o que ainda não sei, possivelmente apenas para expressar um suposto medo de talvez não mais saber escrever, exatamente por não estar sentindo nada agora. Mas como tudo na vida é passageiro, continuarei caminhando e observando tudo e a todos, com a certeza de que minha escrita deve ter saido só para dar um passeio...