O que sobrou do céu
Este é o título de uma das extraordinárias músicas do grupo O Rappa. Lembrei da frase quando percebi que o céu do meu quintal ficou menor. Uma pequena e nova construção neste mesmo pequeno quintal acabou diminuindo minha visão da abóboda celeste. Agora mesmo à noite eu fui, como de praxe, fumar e olhar para as estrelas e percebi que não dá mais pra ver quase todo o céu, como antes. A nova obra cobriu uma laje onde era possível nos deitarmos sobre um edredom e com a barriga pra cima contemplarmos as estrelas e os aviões. De dia, é claro, o sol também diminuiu bastante. E ainda mais nesse pré-inverno – que na verdade já é o inverno meteorológico. No entanto as plantas ainda não reclamaram. E os meus pés de boldo estão com toda vitalidade. Tenho o hábito de fazer chá de boldo. Pra quem não sabe, as folhas de boldo não são levadas na água quente. Pegamos duas folhas e as amassamos num copo com água fresca. É amargo. Mas... Vou te contar... Há momentos em que é melhor que cerveja. Outro dia falei com minha filha que chá de boldo é bem melhor que brigadeiro e ela não acreditou em mim. Acho que o que é amargo nos deixa preparados.
E eu? O que faço com o céu? O que sobrou do meu céu? É muito difícil um novo céu para um homem que já não sente tanta atração por filmes de ficção-científica, nem tanta fascinação por astronomia, e para quem há tempos o céu cristão não faz mais qualquer sentido.
Venham novo céu e nova Terra.