Ato falho
Os pensamentos, às vezes, tomam atalhos e fazem associações sem que o pensante tenha consciência do fato. Por isso, muitas vezes falamos algo quando, na verdade, pensamos outra bem diversa. Isso acontece especialmente quando a nossa mente está ocupada com dois assuntos diferentes ao mesmo tempo. Diz-se, então, que cometemos um ato falho. Eu, particularmente, prefiro dizer que foi um mico mesmo.
Foi assim que aconteceu com a minha grande e distraída amiga, a Lu, numa ocasião em que foi estudar na casa de um nosso colega, cuja mãe havia preparado um lanche que mais parecia um banquete, a ponto de fazer com que a minha esfomeada e gulosa amiga ficasse como que hipnotizada. Afinal, todos sabem que estudar muito dá uma fome danada.
Ela estava pronta pra provar cada um dos petiscos, quando o pai do colega entrou na sala de jantar e avisou à esposa que iria dar uma passada no órgão público tal, onde trabalhava. A mãe da Lu trabalhava neste mesmo órgão. Então, sem parar de olhar pr'aquela mesa farta e apetitosa, ela falou assim:
-- Ah, o senhor deve comer muito a minha mãe!
O tempo parou. Todos na sala ficaram congelados e com os olhos escancaradamente arregalados. O pai do colega, com a voz hesitante, constrangida e lenta, retrucou:
-- Eu... acho... que... não.
Vivi, outra colega presente, que estava louca pra dar uma gargalhada, virou-se pra Lu e tentou remediar:
-- Lu, eu creio que você quis dizer "O senhor deve CO-NHE-CER muito a minha mãe", não foi?
E a distraída esfomeada, muito surpresa, perguntou na maior inocência:
-- E não foi isso o que eu disse?
Aí sim, todos caíram na gargalhada.