Minha peculiar paixão.

Sou apaixonado pela palavra, nem sei desde quando. Paixão daquelas de rodeios, de insinuações mútuas. Na verdade, a persuasão foi maior por parte dela (sem querer me gabar...), a ponto de ver-me sem resistência. E olha que eu relutei... mas é aquela velha história: Paixão quando chega, vem como um tsunami, e salve-se quem puder, ou quiser. Comigo não foi diferente.

Sempre tive uma quedinha por ela, mas pensava que fosse aquela atraçãozinha efêmera, que dá e passa. Puro engano. Mas era de maneira subjetiva, admirava apenas à distância, daquele tipo "bonita e simpática, mas não daríamos certo juntos", e estagnei nesse pensamento. Ela era bonita quando escrita por outros, não por mim. Sim, era um pensamento covarde e preguiçoso.

Dá pra afirmar que nossos caminhos sempre foram de extrema discrepância. Trocando em miúdos, nunca fomos apresentados, assim, formalmente. Leitura pra mim, até bem pouco tempo, equivalia ao caderno de esportes e ao desespero às vésperas de prova. Sei que pegaria bem se dissesse aqui que sou assíduo leitor das crônicas de Machado de Assis, Rubem braga, Veríssimo, Martha, mas porra nenhuma. Em suma: Afinidade zero. Até hoje não sei porque fui escolhido. Será que aquele papo de que os opostos se atraem é verdadeiro?

Tenho que admitir, "oposto" seria eufemismo. Também sou o inverso do seu tipo de cara preferido, aquele sujeito barbudo, que usa óculos mesmo tendo a visão perfeita, de camisa pólo social ou quadriculada, que aos sábados não abre mão de assistir à estréia daquela peça de teatro ou de uma nova exposição no centro cultural. Não definiria como "nerd", isso lembra os meus tempos de escola. Chamaria de "cult", sujeito com conteúdo pra dar e vender. Não chego nem perto desse estereótipo. Querem um exemplo? Frequento micareta. Não preciso falar mais nada, né? Então de onde diabos surgiu esse amor?

Sei lá. Mas hoje em dia, analisando imparcialmente, diria que a achava encantadora demais pra mim. Muita areia pro meu caminhãozinho. Às vezes ela me olhava e abria um sorriso, mas sempre imaginava que fosse pra outro. O que ela via de tão especial em mim? Então, cego por opção, passava batido perante suas escancaradas investidas.

Mas há alguém mais segura e dona de si que as palavras? Garanto que não, pois experimentei de sua ira. Se traduzirmos para o mundo da micareta, diria que fui agarrado a força sem tempo de reação. Preciso admitir: Usou ne abusou de mim, não havia como relutar. Aí deixei levar...

E levou mesmo. Hoje, diria que estamos namorando, mas não é um namoro muito comum. Não à toa digo que sou chantageado pelas palavras. É verdade. Ela é a voz forte da relação. Manda e eu obedeço, e, nesse caso, admito que gosto de "sofrer".

Mas o simples fato de saber que esse romance não se desgasta com o tempo, muito pelo contrário até, já é motivo suficiente pra eu admitir, sem medo: Sou um autêntico masoquista literário.

Mais no meu blog: lealbrunno. blogspot.com