SERIA BOM VOLTAR AO PASSADO?
“Eu daria tudo que eu tivesse, pra voltar aos tempos de criança, eu não sei pra que a gente cresce, se não sai da gente essa lembrança...” Eita, Ataulfo Alves! De vez em quando, essa pérola do nosso cancioneiro me vem à mente e eu cantarolo baixinho.
Hoje foi um dia de cantarolá-la. Engraçado como são as lembranças. Elas nos remetem para um tempo que, muitas das vezes, a saudade bate forte e nos faz refletir sobre as coisas boas da vida. Se elas são somente lembranças, as ruins vêm juntas também.
Mas, o que se poderia fazer de bom se nós tivéssemos o privilégio de voltarmos ao passado? Em primeiro lugar, se fosse possível voltar ao passado, nada poderia ser mudado, acredito. Consequentemente, voltar ao passado, seria da mesma forma que um dia nós o vivemos. Sim. Não poderíamos mudar o seu curso, sob pena de também mudarmos o nosso futuro. Ou seja, se voltássemos ao passado e, por algum motivo tivéssemos consciência disso, e mudássemos algumas coisas feitas anteriormente, com certeza, mudaríamos o nosso futuro presente. Não só o nosso, mas o de todas as pessoas que se relacionaram conosco lá no passado e, por tabela, essas pessoas mudariam a vida de outras pessoas. E assim por diante.
Não acredito que fosse uma boa ideia, portanto. Já imaginaram, porventura, alterar a ordem natural das coisas? A confusão que iria dar?
Vejam se isto não acontece: sempre numa roda de amigos, quando o assunto passa da realidade para a ficção, é comum ouvir alguém dizer: "eu queria ter 20 anos a menos, porém, com a cabeça que tenho hoje!" Ora, aí está implícito o desejo de alterar o rumo de sua vida. Talvez seja, esta vontade, uma forma de consertar alguma coisa feita de errada; talvez seja o desejo de conseguir algo de forma mais fácil, sem precisar lutar tanto na vida. Mas pode ser, também, a simples vontade de querer reviver os melhores momentos de felicidade que já tivera, e que, talvez, não tenha mais.
Eu, particularmente, já pensei em voltar ao passado. Entretanto, das coisas que pensei em reviver, quando lá chegasse, pouquíssimas são aquelas que a minha idade – na época – me fizeram ser um menino/adolescente/ feliz. Por isso é que, quando eu penso em voltar ao passado, penso na saudade que algum detalhe desse passado me fez ter. E se é saudade, é coisa boa de recordar.
Assim, se eu pudesse voltar ao passado, eu queria voltar em diversas fases do meu tempo de criança/adolescente. Começaria, deste modo, a voltar, pela primeira vez, quando eu tivesse meus 10 anos. Os banhos no Rio de Maria Rodrigues, todos os dias – tempos em que as águas ainda eram apropriadas para o banho –, me são prazerosos nas recordações. Depois eu voltaria com 12 anos. Jogo de futebol no campo onde hoje, em frente, é o posto Olinda, e um zero a zero que persistiu até o último minuto do segundo tempo. De repente, a bola veio na minha direção e eu a “matei” na coxa e a mandei de volta, com uma canhota potente, em direção ao gol adversário. Ela entrou lá onde a coruja faz o ninho. Um bonito gol comemorado, a pulos e gritos, por Damião de Corina, hoje, já sendo treinador lá no andar de cima.
Mais na frente, quando eu tivesse quinze anos, eu queria estar no estado de Minas Gerais, viajando com meu pai, numa noite chuvosa, e ele parando o caminhão num restaurante e a gente sentando para tomar a sopa mais gostosa que eu já tomei na minha vida!
É claro que não poderia faltar, nesse retorno ao passado, um ou dois bailes do meu tempo de rapaz namorador. Poderia ser no Ypiranga. “Pra mim” estou vendo a cena: calça boca de sino, sapato cavalo de aço, camisa cacharrel, medalhão no peito e um cinto que, de tão grande e pesado, era uma arma letal – se fosse hoje em dia, a sua serventia seria outra.
Escolheria também uma passagem dos meus tempos de jovem adulto. Um carnaval onde o que se menos ouviu foram os batuques das escolas de samba. Para falar a verdade, os únicos sons que se ouviam eram o som das águas do mar, o som das vozes cantarolando baladas dos Fevers, Renato e Seus Blue Caps, Roberto Carlos, Os Incríveis e, lógico, os Beatles (o inglês era de lascar! – até hoje é) ou, então, o som de discursos inflamados de pretensos comunistas metidos a besta. Um carnaval inesquecível, aquele de 1978, na praia de São Sebastião, no litoral norte do estado de São Paulo.
Por fim, eu escolheria a minha última volta ao passado. Seria nos anos noventa. Queria ter o prazer de andar e conversar de novo com o meu velho pai. Não falaria nada que pudesse mudar o meu futuro, mas mataria a saudade que eu sinto desse homem que sempre me ensinou, de forma simples, a ser uma pessoa honrada e de caráter ilibado. Uma saudade imensa!
Porém, acredito, o melhor é viver o presente e apenas recordar o passado, sem querer estar nele de novo. Talvez, se nós voltássemos ao passado, sabendo/tendo a cabeça que temos hoje, nada do que vivemos tivesse o mesmo sabor. Deixemos que a ordem natural das coisas aconteça e apenas cantemos a música sem termos a pretensão de entrarmos num túnel do tempo...
“Eu daria tudo que eu tivesse, pra voltar aos tempos de criança, eu não sei pra que a gente cresce, se não sai da gente essa lembrança...” Eita, Ataulfo Alves! De vez em quando, essa pérola do nosso cancioneiro me vem à mente e eu cantarolo baixinho.
Hoje foi um dia de cantarolá-la. Engraçado como são as lembranças. Elas nos remetem para um tempo que, muitas das vezes, a saudade bate forte e nos faz refletir sobre as coisas boas da vida. Se elas são somente lembranças, as ruins vêm juntas também.
Mas, o que se poderia fazer de bom se nós tivéssemos o privilégio de voltarmos ao passado? Em primeiro lugar, se fosse possível voltar ao passado, nada poderia ser mudado, acredito. Consequentemente, voltar ao passado, seria da mesma forma que um dia nós o vivemos. Sim. Não poderíamos mudar o seu curso, sob pena de também mudarmos o nosso futuro. Ou seja, se voltássemos ao passado e, por algum motivo tivéssemos consciência disso, e mudássemos algumas coisas feitas anteriormente, com certeza, mudaríamos o nosso futuro presente. Não só o nosso, mas o de todas as pessoas que se relacionaram conosco lá no passado e, por tabela, essas pessoas mudariam a vida de outras pessoas. E assim por diante.
Não acredito que fosse uma boa ideia, portanto. Já imaginaram, porventura, alterar a ordem natural das coisas? A confusão que iria dar?
Vejam se isto não acontece: sempre numa roda de amigos, quando o assunto passa da realidade para a ficção, é comum ouvir alguém dizer: "eu queria ter 20 anos a menos, porém, com a cabeça que tenho hoje!" Ora, aí está implícito o desejo de alterar o rumo de sua vida. Talvez seja, esta vontade, uma forma de consertar alguma coisa feita de errada; talvez seja o desejo de conseguir algo de forma mais fácil, sem precisar lutar tanto na vida. Mas pode ser, também, a simples vontade de querer reviver os melhores momentos de felicidade que já tivera, e que, talvez, não tenha mais.
Eu, particularmente, já pensei em voltar ao passado. Entretanto, das coisas que pensei em reviver, quando lá chegasse, pouquíssimas são aquelas que a minha idade – na época – me fizeram ser um menino/adolescente/ feliz. Por isso é que, quando eu penso em voltar ao passado, penso na saudade que algum detalhe desse passado me fez ter. E se é saudade, é coisa boa de recordar.
Assim, se eu pudesse voltar ao passado, eu queria voltar em diversas fases do meu tempo de criança/adolescente. Começaria, deste modo, a voltar, pela primeira vez, quando eu tivesse meus 10 anos. Os banhos no Rio de Maria Rodrigues, todos os dias – tempos em que as águas ainda eram apropriadas para o banho –, me são prazerosos nas recordações. Depois eu voltaria com 12 anos. Jogo de futebol no campo onde hoje, em frente, é o posto Olinda, e um zero a zero que persistiu até o último minuto do segundo tempo. De repente, a bola veio na minha direção e eu a “matei” na coxa e a mandei de volta, com uma canhota potente, em direção ao gol adversário. Ela entrou lá onde a coruja faz o ninho. Um bonito gol comemorado, a pulos e gritos, por Damião de Corina, hoje, já sendo treinador lá no andar de cima.
Mais na frente, quando eu tivesse quinze anos, eu queria estar no estado de Minas Gerais, viajando com meu pai, numa noite chuvosa, e ele parando o caminhão num restaurante e a gente sentando para tomar a sopa mais gostosa que eu já tomei na minha vida!
É claro que não poderia faltar, nesse retorno ao passado, um ou dois bailes do meu tempo de rapaz namorador. Poderia ser no Ypiranga. “Pra mim” estou vendo a cena: calça boca de sino, sapato cavalo de aço, camisa cacharrel, medalhão no peito e um cinto que, de tão grande e pesado, era uma arma letal – se fosse hoje em dia, a sua serventia seria outra.
Escolheria também uma passagem dos meus tempos de jovem adulto. Um carnaval onde o que se menos ouviu foram os batuques das escolas de samba. Para falar a verdade, os únicos sons que se ouviam eram o som das águas do mar, o som das vozes cantarolando baladas dos Fevers, Renato e Seus Blue Caps, Roberto Carlos, Os Incríveis e, lógico, os Beatles (o inglês era de lascar! – até hoje é) ou, então, o som de discursos inflamados de pretensos comunistas metidos a besta. Um carnaval inesquecível, aquele de 1978, na praia de São Sebastião, no litoral norte do estado de São Paulo.
Por fim, eu escolheria a minha última volta ao passado. Seria nos anos noventa. Queria ter o prazer de andar e conversar de novo com o meu velho pai. Não falaria nada que pudesse mudar o meu futuro, mas mataria a saudade que eu sinto desse homem que sempre me ensinou, de forma simples, a ser uma pessoa honrada e de caráter ilibado. Uma saudade imensa!
Porém, acredito, o melhor é viver o presente e apenas recordar o passado, sem querer estar nele de novo. Talvez, se nós voltássemos ao passado, sabendo/tendo a cabeça que temos hoje, nada do que vivemos tivesse o mesmo sabor. Deixemos que a ordem natural das coisas aconteça e apenas cantemos a música sem termos a pretensão de entrarmos num túnel do tempo...
Obs. Imagem da internet