Crônica de Maio
 
               Maio, sempre foi meu mês preferido.  Mês de emocionar-me com as noivas que sobem ao altar para coroarem seus sonhos de amor, de encantar-me com a beleza das flores, que parecem mais belas, de chorar emocionada com os anjinhos humanos que coroam a Virgem Maria, de agradecer a Deus pela vida que me é concedida a cada amanhecer e celebrada com mais alegria no dia que o calendário marca meu nascimento, de alegrar-me com a felicidade dos muitos familiares e amigos que festejam a vida ao longo do mês mariano.
               
               Mas, este ano maio foi vivido cheio de medo e apreensão. Desde que mamãe sofreu o infarto (final de abril) fui assaltada por um pânico inexplicável pela razão – mas, compreensível ao coração –, tinha medo que ela morresse no mês de maio. 


               Deveria haver alguma lei proibindo os pais de morrerem e, principalmente, partirem no mês de aniversário de seus parentes mais próximos. Papai morreu no mês do aniversário de mamãe, maio era o mês de aniversário de papai. Dia dois mamãe passou muito mal e pensávamos que ela não chegaria ao final do dia. O medo aumentou. Dia treze, que seria aniversário de papai, outro susto. E a partir daí todo dia eu pedia aos céus para levarem embora meu mês mais querido, mas que ele partisse sozinho, sem mamãe a bordo de seus encantos.


               O medo era tanto que não conseguimos comemorar o dia das mães. Apesar de estarmos todos reunidos as gargalhadas, tão comuns em nossos encontros, cederam lugar as lágrimas, o sorriso escondeu-se por trás da cortina de medo que envolvia nosso olhar. 

               Não comemorei meu aniversário – só aqui no RL –, esqueci de ligar ou enviar e-mail para pessoas muito especiais que fizeram aniversário este mês, dentre elas meu resenhista predileto
Bernard Gontier,  a todos peço desculpas por este ato falho e reafirmo meu desejo de dias plenos de felicidade. 

               Quando maio partiu senti um grande alívio. A sensação que tenho é de ter ultrapassado um grande precipício e, apesar dos arranhões, fraturas, algumas expostas, todos sobreviveremos aos dias vindouros. Posso estar enganada, espero veementemente que não, mas acredito que mamãe não vai nos deixar este ano. 


               Maio partiu sem levar com ele todas as dores, mas nos deixou o desafio de aprendermos a conviver “naturalmente” com uma realidade nunca imaginada por nenhum de nós. Estamos todos reaprendendo a viver, tentando nos acostumar que não teremos mais o almoço de domingo, que vinte e cinco de setembro não terá o mesmo gosto de antes. 

               Está faltando sal em nosso cotidiano. O mesmo sal que mamãe tanto reclama que falta em sua dieta zero sal. Mamãe é o sal de nossas vidas. Vê-la acamada, dependente, sem comandar a rotina de sua casa/vida é como saborear um belo pernil de porco sem sal.




*Foto: Mamãe e 4 das 6 marias no dia das mães. 

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 06/06/2010
Reeditado em 06/06/2010
Código do texto: T2302742
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