Eita Amor displicente!
Eita Amor displicente!
Mª Gomes de Almeida
Apesar de um tanto quanto melancólica, arrumo carinhosamente as malas do meu amor que partirá em missão da nossa igreja. Organizo tudo que sei que ele gosta e que lhe será útil.
Na véspera da viagem e já em clima de despedida preparo um bolo para o nosso café da manhã. Como sei que ele não vive sem bolo, tratei logo de preparar uns pedacinhos muito bem embalados e colocá-los em uma latinha para que levasse.
Como sei também que ele é discreto, até um pouco tímido fiz tudo em segredo, pensando na surpresa que ele teria ao encontrar a encomenda muito bem guardada nos seus pertences. Escrevi-lhe um bilhetinho carinhoso, e o guardei num cantinho da lata. Pensado eu que tava abafando!
Depois de concluída a viagem e já no segundo dia, nenhum comentário, nenhuma surpresa, nenhum obrigado. Vi-me obrigada a pergunta-lhe sobre o tal bolo.
Ele nem tentou disfarçar, disse-me que tinha o esquecido, mas ainda ia comê-lo.
Se eu disser que não fique chateada estarei mentido. Mas que mandou ser besta?
Apesar de triste, sei que em alguns pedaços de bolo esquecidos e provavelmente já mofados, a vida ganha sentido.