Dentro de nós mesmos
Dia após dia, já não se sentia mais à vontade para fazer as coisas que gostava. A motivação ia esvaziando-se e escorrendo entre os dedos das mãos. A cada pequena coisa que precisava fazer (ou que tinha vontade), era como se fosse uma auto flagelação, uma tortura.
Não sabia quando isso começara, apenas sabia que veio de tal maneira que o derrubou sem menor possibilidade de proteção. Não era nada visível, nada relacionado à sentimentos ou decepções; era uma sensação estranha e que simplesmente o invadiu sem bater na porta. O que estranhava era que sentia que isso era particular, ninguém lhe havia feito nada e nem tinha ocorrido algum fato para deixá-lo assim. Porém, estava lá, seguindo em frente como se alguém o forçasse a continuar a viver. Se alguém o visse dessa maneira, acharia que estivesse doente; mas não estava. Andava cabisbaixo e sem ânimo para conversar com nenhum de seus amigos ou colegas de trabalho. Com familiares trocava poucas palavras, nada muito relevante nem muito longo. Ocupava-se com algum serviço do trabalho e pensava em algumas questões filosóficas demais para o seu gosto. Tinha aprendido certa vez, que uma questão filosófica era quando não conseguia-se obter uma resposta definitiva. Pensando assim, o que estava passando poderia ser uma delas, não!?! Talvez, mas como não gostava de pensar nisso, afastava logo essa possibilidade.
Após algum tempo foi convivendo com aquilo como se fosse sua sombra. Não o deixava nem um minuto, mas não o incomodava mais. Aprendera a viver com aquela sensação e em muitas vezes se esquecera dela. Conseguia manter a cabeça ocupada o suficiente para fazê-lo pensar em coisas mais produtivas e voltara a ter uma motivação para realizar suas tarefas e praticar seus gostos.
Percebera que dificilmente poderia estar livre dela para sempre. Não tinha como isso acontecer. A sensação que tanto o incomodara, mesmo estando agora quieta ao seu lado, se tornara uma presença constante em alguns momentos, principalmente, quando tinha muitas dúvidas em sua cabeça. Estava mergulhando de cabeça no mundo real.