"ARTEISMO"
Geralmente, quando visito uma cidade, pela primeira vez, entro na igreja para admirar sua arquitetura e esculturas. Em Florianópolis, onde resido, sempre levo amigos à catedral, onde está em exposição uma obra de arte inigualável: esculpida em dois blocos de madeira, por um artista austríaco(se não me engano), em tamanho natural, um burrinho carregando Nossa Senhora e o Menino Jesus, sob a proteção de São José. Trata-se de uma concepção da Fuga para o Egito, numa homenagem ao antigo nome da Ilha de Santa Catarina – Nossa Senhora do Desterro e que hoje é conhecida como Florianópolis.
De acordo com conceitos religiosos, sou materialista, pois sou atéia. Porém, na verdade, vos digo: não ligo muito para bens materiais e sou cultora da Arte em suas diversas manifestações e da sensibilidade dos sentimentos procurando entender os meus e os da pessoas com quem convivo.
Considero as igrejas como uma espécie de museu onde as figuras de santos, anjos e toda a pompa que contêm são uma maneira de ostentação que pode ser uma transgressão a um (ou mais) dos pecados capitais e ao Decálogo. No primeiro caso, a Soberba e no segundo, a total desobediência ao que Moisés tentou implantar aos seus seguidores do deserto: “não adorarás imagens”.
Através de séculos, muitos deles conturbados por divergências religiosas, configurações de santos e até Deus, vêm provocando um certo repúdio aos “puristas” seguidores dos Mandamentos.
Talvez eu haja invadido uma área delicada expondo meus pontos de vista, mas não desejo ser mal interpretada por quem me ouviu, ontem, cantando uma música sacra na Catedral, a pedido de uma amiga, na missa de sétimo dia da morte de seu pai. Cantei com o mesmo respeito que teria se estivesse em um casamento, ou num show e, em nada abalou minha descrença ou a crença dos presentes ao ato. À minha volta, as belas esculturas centenárias serviram de cenário ao meu canto.