SEM PALAVRAS
Por acaso você já acordou sem querer fazer qualquer pergunta? Já amanheceu sem que restasse uma palavra sequer, na ponta da língua ou por dentro da boca? Já abriu os olhos e nada viu, apenas por sentir antes de qualquer coisa, a sensação deliciosa do corpo inteiro no colchão macio e o aconchego do travesseiro com o seu perfume? Pois é. Uma manhã assim não é para se desperdiçar.
Todos os dias, mal se levanta, existem ordens para serem seguidas, rituais para serem cumpridos, lembretes para serem revirados, como se fôssemos um quadro negro cheio de pequenas receitas para o bem viver. Todos os dias, normalmente, acorda-se com o dia de ontem dessorando o veneno dos afazeres que ficaram para trás (mil!) e com o dia de amanhã, ainda invisível, mas quase todo já ocupado por outros tantos desses habituares (mais mil!). O meu dia, quase todos os dias, são assim. Passos certos, preocupações ligeiras e tantas vezes inúteis; perguntas que nunca responderei, que passam ao largo de mínima distração.
Nossa! Alguma vez vocês já se perguntaram por que perguntamos tanto? Por que queremos saber tanto? Eu sei, eu sei que todos vamos dizer a mesma coisa – eu para os outros e eles, para mim – que é a vida. A vida é assim, é assado... E a vida vai levando a culpa por nossa impaciência, por nossa ansiedade, nossas fugas, nossos medos, nossas culpas. Por todos os nossos, nossos. E esse nosso, se formos esmiuçá-lo... Lá vem obrigação, necessidade, carência, virgem! Mas não é?
Como hoje acordei assim, sem palavras, não me coube perguntar nem responder, só sentir. E senti, no abrigo de meus lençóis, uma saudade e tanto! Hum, hum, saudade, sim senhor! De mim! Sau-da-des de mim! De minha proximidade, de meu calor, de minha pele, meus cabelos, meu corpo vivo. E a sensação de me pertencer, naquele momento, me provocou um suspiro agudo, há muito esquecido. Como se estivesse entre grades que se abriram. Suspirei, inalei o meu cheiro, provei de minha liberdade, do gosto de tudo que me rodeava, de tudo o que gosto e que vive por mim, em completo abandono aos meus cuidados.
Depois, só depois olhei lá para fora. Para completar o dia estava lindo! Um sol radiante, um céu maravilhoso de junho e de outono. Fiz o quê? Sem palavras – aliás, descobri que sem palavras é melhor do que cem palavras: sai, cortei cabelo, fiz mão e pé, massagem, comprei umas roupas, guardei tudo no quiosque de um amigo e, diante daquele marzão irresistível, num mergulho quase aéreo... Aí! Lavei minha alma!
Mas, olhem, o dia ainda não terminou, viu?
Por acaso você já acordou sem querer fazer qualquer pergunta? Já amanheceu sem que restasse uma palavra sequer, na ponta da língua ou por dentro da boca? Já abriu os olhos e nada viu, apenas por sentir antes de qualquer coisa, a sensação deliciosa do corpo inteiro no colchão macio e o aconchego do travesseiro com o seu perfume? Pois é. Uma manhã assim não é para se desperdiçar.
Todos os dias, mal se levanta, existem ordens para serem seguidas, rituais para serem cumpridos, lembretes para serem revirados, como se fôssemos um quadro negro cheio de pequenas receitas para o bem viver. Todos os dias, normalmente, acorda-se com o dia de ontem dessorando o veneno dos afazeres que ficaram para trás (mil!) e com o dia de amanhã, ainda invisível, mas quase todo já ocupado por outros tantos desses habituares (mais mil!). O meu dia, quase todos os dias, são assim. Passos certos, preocupações ligeiras e tantas vezes inúteis; perguntas que nunca responderei, que passam ao largo de mínima distração.
Nossa! Alguma vez vocês já se perguntaram por que perguntamos tanto? Por que queremos saber tanto? Eu sei, eu sei que todos vamos dizer a mesma coisa – eu para os outros e eles, para mim – que é a vida. A vida é assim, é assado... E a vida vai levando a culpa por nossa impaciência, por nossa ansiedade, nossas fugas, nossos medos, nossas culpas. Por todos os nossos, nossos. E esse nosso, se formos esmiuçá-lo... Lá vem obrigação, necessidade, carência, virgem! Mas não é?
Como hoje acordei assim, sem palavras, não me coube perguntar nem responder, só sentir. E senti, no abrigo de meus lençóis, uma saudade e tanto! Hum, hum, saudade, sim senhor! De mim! Sau-da-des de mim! De minha proximidade, de meu calor, de minha pele, meus cabelos, meu corpo vivo. E a sensação de me pertencer, naquele momento, me provocou um suspiro agudo, há muito esquecido. Como se estivesse entre grades que se abriram. Suspirei, inalei o meu cheiro, provei de minha liberdade, do gosto de tudo que me rodeava, de tudo o que gosto e que vive por mim, em completo abandono aos meus cuidados.
Depois, só depois olhei lá para fora. Para completar o dia estava lindo! Um sol radiante, um céu maravilhoso de junho e de outono. Fiz o quê? Sem palavras – aliás, descobri que sem palavras é melhor do que cem palavras: sai, cortei cabelo, fiz mão e pé, massagem, comprei umas roupas, guardei tudo no quiosque de um amigo e, diante daquele marzão irresistível, num mergulho quase aéreo... Aí! Lavei minha alma!
Mas, olhem, o dia ainda não terminou, viu?