A arte de amar

Depois de ouvir tantas histórias e de viver tantas outras, penso que amar é como andar sobre uma corda bamba, de olhos vendados a meio metro do chão. A sensação de não podermos cair, de não podermos errar ou falhar, está ali, presente como um fantasma. Enchendo nosso coração de medo e de receio de não amarmos direito, de não fazermos a coisa certa. É como se andássemos sobre um precipício, mas, na verdade, não há perigo real. Estamos apenas a meio metro do chão e, se cairmos, nada vai acontecer. Não nos fará mal algum amar mais uma vez. Mas o medo é paralisante. Acreditamos que o precipício está a nossa frente e que, a qualquer vacilo, ao menor erro de avaliação podemos cair e, pior, certamente, não sobreviveremos a mais uma queda.

De olhos vendados sentimos apenas o vento batendo em nosso rosto, ouvimos o som da nossa voz e sentimos a corda, balançando sob os nossos pés. Teremos coragem de tentar? Ousaremos atravessar esse precipício imaginário que separa o amor da solidão? Alguns, por sua vez, se mantêm agarrados à corda, com todas as forças, mesmo sabendo que ela não está segura ou que permanece presa por um fio, apenas. Mas, como soltá-la? Como deixar pra trás um relacionamento que nos tira da solidão, mesmo que nos mantenha constantemente inseguros, ansiosos, com medo? Não, o medo de morrer é muito maior. Estamos vendados, não vemos o chão. Em nossa mente o precipício se agiganta sob nossos pés.

Outros chegam perto da corda, mas nem tentam. Não se aventuram. Querem muito atravessar e chegar do outro lado, mas de olhos vendados temem andar sobre a corda bamba. Têm medo de altura. Tudo faz crer que estão no alto de uma montanha, pois no lugar chamado solidão o vento é frio e ouvem-se apenas vozes distantes. De vez em quando alguém grita nosso nome nos chamando. Dizem para não termos medo, que não há perigo em amar de novo. Que eles estarão lá para ajudá-lo. Mas estamos vendados. Na busca por um relacionamento a primeira batalha não é amar, amar é uma conseqüência, a primeira dificuldade é conseguir confiar: no outro e em si mesmo. É atravessar a distância com passos firmes sob uma corda bamba e querer desesperadamente chegar do outro lado. E, se não der, se não conseguir, ter a coragem de tentar de novo.

Sinceramente, não sei como fazer isso. Na prática, por várias vezes, me peguei acreditando em monstros imaginários, em fantasmas, e vendo precipícios quando estava a apenas a meio metro do chão.

Como distinguir o real do imaginário? Como ter certeza? Somente tirando a venda. Abrindo os olhos e encarando a verdade dos fatos. Só assim, podemos lidar com a realidade e andar de cabeça erguida e passos firmes. Não tenho todas as respostas, mas já sei que fechar os olhos não é uma delas.