APOCALIPSE

Apocalipse

Jorge Linhaça

A guerra virá, não se iludam, pode ser adiada por mais um tempo, pode ser evitada por um período, mas ela virá.

Virá pelas mãos dos pacifistas, envolvidos em uma guerra santa pela paz.

Virá de onde menos se espera, como um serial killer que parece uma pessoa pacata e educada.

Marcharão pela paz agitando bandeiras e fazendo exigências...caminhando contra os canhões ansiosos pela coroa de mártir. Toda causa precisa de mártires, voluntários ou não. É preciso gerar comoção para incendiar os corações da massa.

A guerra virá...mais longa do que se espera...a príncípio como um grande Reality Show, transmitido em tempo real por centenas de câmeras de televisão, cada qual enquandrando o ângulo que melhor lhe convier...

As bombas explodirão no solo enxarcando-o de sangue nem sempre inocente. Você assistirá a tudo , no primeiro momento horrorizado...depois tomando partido e torcendo para um dos lados...achará que, como num jogo de futebol, aquilo não irá afetar sua vida...afinal, estará tão longe...

Os preços começarão a subir e você não se dará conta...achará normal...os alimentos escassearão por vários motivos...o clima mudará e, ainda assim, você achará que logo há de passar...A economia vai entrar em colapso, haverá dinheiro mas não servirá de nada pois não haverá o que comprar...

Nas grandes cidades multidões de famintos esgotarão até o último grão de alimento...depois da fome a doença...pessoas enfraquecidas pela subnutrição sucumbirão ante as mais simples enfermidades...Os que ainda tiverem forças correrão para as cidades menores, para o campo, na esperança de encontrarem uma maneira de sobreviver...milhares...milhões de famintos, qual uma nuvem de gafanhotos, a devastar as raras plantações ainda existentes...

Os oportunistas de sempre montarão milícias para "sobreviver"

Conflitos armados de vizinho contra vizinho, irmão contra irmão...a Guerra, a fome, a doença, a morte a campear por todos os caminhos...e você julgando estar seguro...

O cheiro de morte espalhado no ar, trazido pela força dos ventos...No mercado prateleiras vazias...as ruas desertas...

não mais energia elétrica...as colheitas perdidas...

O medo, ah esse triste medo, medo que faz odiar...medo que faz enlouquecer...o medo que faz desconfiar até da sombra da noite que cai...do barulho do vento...não há para onde correr...não há aonde se esconder...o medo, costurado à tua alma como uma sombra de Peter Pan te acompanha...

Viras um homem-vaca, comes a grama que encontras tentando não perecer...mas a grama também escasseia...

Nessa hora te lembras da tua torcida por um dos lados diante da TV, te lembras de teus preconceitos, da tua ânsia de estares certo...amaldiçoas a todos...e enfim percebes...não havia lado certo...não havia pacifistas...só haviam interesses mesquinhos manipulando a todos...

Te encolhes nas sombras, rodeado de medo e rezas, rezas para haver ainda outro dia...

"A insensatez do ser humano em deixar-se manipular é a maior das tragédias da humanidade .O resto é efeito colateral." Jorge Linhaça

Arandu, 4 de julho de 2010

12:23