VOCÊ ESTÁ DEMITIDO!
Diz um ditado da minha querência que todo o “pau que vai vêm”. Todo o mal feito acaba voltando. Essa afirmação grosseira está diretamente ligada à questão da causa e do efeito. Essa, uma verdade científica, sem contestação, pois científica que é já foi provada. Vê-se isso todos os dias, pois não. Os efeitos, ruins na maioria, das causas mal resolvidas. Mas, quem se dá contas? O mal não se instala porque é apenas mau. Mas sim se instala na ausência do bem. Em geral disfarçado; de boa aparência. O outro lado da mesma moeda. A mesma coisa com funções e aparências distintas porém lidando com a mesma realidade. Exemplos não faltam.
Críticos – sejam lá do forem, mas, em especial, os de literatura – são a outro lado do escritor e muitos já interpretam aspectos subjetivos na obra antes mesmo dela ser escrita. Não ligo para eles. Já disseram por mim coisas que nem ainda havia pensado e jamais escrito; já fui comparado com quem é incomparável - por ter sofrido forte influência, disseram - com autores dos quais li apenas uma meia dúzia de livros de suas vastas obras. Autores e críticos tratam da mesma coisa com o mesmo interresse e prazer, admito. Sobre as relações de mesmo sexo o que se vê é a pecha de passivo e ativo, isso quando fazem essa distinção. Absurda. No meu entendimento não percebo onde pode estar a passividade de uma atividade. Bobagem, já que isso não se dá apenas numa das muitas ações das relações humanas, sejam elas de que classificação atribuída. Há muito mais; e mesmo que se queira que os lados sejam diferentes, ainda assim o são da mesma moeda. A corrupção também; seus lados diferentes agem em direção há um mesmo objetivo. A conivência será melhor palavra. Em todos esses casos aqui tomados como exemplos do que pretendo dizer, embora existam outros muitos mais, a conivência é o nó que ata. Nos dois primeiros exemplos, pois o terceiros é a exceção à regra que a comprova.
Conivente é o povo eleitor com os candidatos aos postos de representação, já que a república sendo federativa é, pois, de representação popular. Erram os críticos - eles novamente - quando afirmam que é inadmissível um parlamentar apossar-se do dinheiro público como um bandido; roubar como ladrão, assaltar como assaltante. Veja o outro lado da moeda: já eram ladrões,assaltantes,bandido antes de assumirem seus cargos que alcançaram com um claro propósito; e foram eleitos pelo povo. Em toda a sua extensão, em todas as suas classes sociais e culturais, sem exceção. É inadmissível imaginar-se que todos os políticos eleitos sejam puros até antes da posse. Se assim fossem, os que os tornariam impuros? Seriam os parlamentos locais corruptíveis por excelência? Seriam esses os locais da corrupção primordial? Não , certamente que não. Os parlamentares saem, todos, sem exceção, do povo; das mais variadas camadas do povo. Não são aliens, nem entidades esotéricas,nem dimensões herméticas. Porém assim são tratados e reverenciados e postos à margem da sociedade; na cissociedade.Cisterráqueos.
Os eleitores são um dos lados da moeda eleições, portanto, e como já se deve saber os candidatos são o outro. Se vigaristas assumem o poder é porque incompetente-coniventes eleitores os põem lá.
“A maioria dos integrantes do atual Congresso é medíocre, com um nível intelectual e moral tão baixo” que não vale a pena insistir no mandato. O atual Congresso Nacional é o pior que conheço. Parte da população, inclusive, compactua com a posição do presidente Lula de minimizar a corrupção em seu governo. Fazem isso porque são iguais a ele...estou encerrando minha vida pública daqui a quatro anos, profundamente desencantado.”
Não fiquei perplexo - como alias deveria ter ficado - ao ler essa despedida do senador Jefferson Peres do PDT do Amazonas. Abstraindo o partido e seu estado, fixo-me no fato de ser um Senador da República. Trata-se de alguém de dentro do sistema, de um dos Três Poderes, melhor dizendo, desistindo e profundamente desencantado. Acho até que ninguém ficou sequer impressionado com os motivos dessa renúncia de um Senador. Não há motivos. A ética e a moral, já tão ralinhas, inodoras e descoloradas, nos dois lados da moeda perderam-se da vista da Nação. Vê-se apenas corromper e aceitar ser corrompido; ser conivente em benefício alheio.Ser roubado por livre e espontânea estupidez. Desiste um homem honesto. Vale-se da renuncia; não da renúncia abjeta da fuga da punição, conceito empregado e aceito entre os políticos. Também não foi aquela renúncia que simplesmente abre mão em favor do semelhante. Foi a renúncia do não querer mais, do agora basta. Provam suas palavra: “a maioria dos parlamentares é medíocre”. E o eleitor está demitido.A crise ética não está apenas na política.
Somos um povo em crise ética, sim senhor, se considerarmos a apreciação da conduta de nossos procedimentos sobre o que é bom e o que é mau- e sobre o bem e o mal, também - numa sociedade confusa; atordoada por conceitos geralmente distorcidos. As sociedades evoluem , sim, é verdade, permanentemente, absorvendo novos conceitos; inclusive de ética e de moral.
O Estado, como associação de indivíduos, ainda procura a melhor maneira de ser constituído. A República também. Platão sugeriu a partilha - a partilha de mulheres,crianças e propriedades. Sócrates propunha que tudo isso deveria ser “o mais possível,comum entre amigos”.
Voltemos aos nossos dias. Se a ética está em mutação estamos todos dentro de um processo irreversível. E a história humana mostra que nesse momento a dor é inevitável. O sofrimento vem do parto da transformação que dura um tempo já estabelecido; inalterável, impossível de ser medido.
É preciso ter paciência. Necessitamos tempo e paciência; mas a necessidade incentiva o homem ao crime embora não seja esse o único motivo. Quem deseja desfrutar coisas cobiçadas e esse desejo está muito além da necessidade, na certa cometerá crimes pois as pessoas desejam também cosas que dêem prazeres sem dores.
Assim está hoje estruturado o Estado organizado nessa nossa República. E nela os políticos eleitos pelo povo sabem que aos que roubam para viver deve-se prometer emprego mas dar apenas o suficiente para viverem diminuindo suas necessidades. Aos que desejam e anseiam por uma sociedade equilibrada, impõem o autocontrole para contê-los. Sabem também, e muito bem, que para gozar de todos os outros prazeres, além do roubo e do desejo, dependem dos outros. Os outros, nessa República, são os eleitores.