PENSEM NO HAITI

PENSEM NO HAITI

O Haiti é o reflexo do nosso descaso. Fechamos muitas vezes os olhos para assim evitarmos olhar de frente os andrajos de seres humanos que formam um país marcado por corrupção e ditaduras. Mandamos muitas vezes as migalhas que sobraram, com o intuito de amenizar a nossa consciência. Marcamos o território e criamos um patriotismo que muitas vezes separa homens de humanos.

O Haiti mostrou para o mundo uma ferida exposta, gangrenando e fedendo, mas esse próprio mundo não entendeu ou não quer entender que esse povo é o reflexo de uma soberania massacrante. Pelo progresso tudo, pela igualdade apenas as sobras.

Agora com tudo a mostra o que resta para o mundo não é tentar erguer o que restou de homens e casas, mas sim, continuar dando suas esmolas, fazendo de uma nação “o mendigo do mundo”. Faltam coisas primordiais para a sobrevivência, o luxo por lá é água e qualquer alimento que engane uma fome de séculos. Sem saber como seguir depois de tal acontecimento, os restos caminham como zumbis, numa direção que vai levar direto para a miséria. Miséria esta que mutila, escraviza, violenta e faz dessa nação um país dos dejetos.

Promessas de construção ouvem-se por todo o mundo, alguns dão milhões, outros centavos, mas qualquer ajuda é insuficiente. De mãos dadas, o mundo tenta solucionar esse câncer, procuram maneiras de criar algum desenvolvimento onde a aridez aduba a vida. Milhões e milhões de seres catam pelas ruas esperanças, misturados com os milhares de corpos que apodrecem. O mau cheiro da desgraça espalhou-se pelo mundo.

A cena dantesca de homens vagando a procura de vida me fez lembrar de um poema de Manuel Bandeira que diz assim: “Vi ontem um bicho na imundície do pátio, catando comida entre os detritos. Quando achava não cheirava, engolia com voracidade. O bicho não era um rato, nem cão, o bicho era o homem”. Pensem no Haiti, que também tem aqui.

MÁRIO SÍLVIO PATERNOSTRO