ARQUITETA DE ARAQUE

Cresci vendo mamãe rabiscar plantas de casas em pedacinhos de papel, para se distrair. Às vezes tinha mesmo planos de construir ou reformar. Lembro de uma reforma feita em nossa casa que agradou a todos. Dela herdei o gosto pelas construções e também cheguei a modificar apartamentos onde morei, o que resultou em mais conforto depois de longas peripécias. Não me atrevi a cursar arquitetura, sempre fui nula em matemática e desenho. Mesmo assim, ousei concretizar um projeto, que não assinei, claro, mas disso não faço segredo. Ao contrário, sempre que vem um elogio, vou logo dando os créditos a mim mesma. Modéstia à parte, a casa onde vivo atualmente ficou bonita e confortável. Sem nenhum pudor, ainda ofereço meus serviços a quem possa interessar...

Por essas e outras é que curti morar na Casa do Brasil - chamada de Maison du Brésil - em Paris. Situada na Cidade Universitária e inaugurada em 1959, ela foi construída a partir de um projeto conjunto dos grandes arquitetos Lúcio Costa e Le Corbusier. É tombada pelo Patrimônio Histórico da França. Como se tornou um ícone da Arquitetura Moderna, e muito citada, estudantes do mundo inteiro apareciam por lá para visitá-la. Sem poder entrar para além do saguão social e curiosos por mais informações, eles acabavam fazendo perguntas a nós, residentes, como se o fato de morarmos ali nos fizesse arquitetos também. Eu adorava quando isto acontecia. Explicava tudo o que podia, só me complicando quando se referiam a detalhes demasiadamente técnicos.

Ou quando o interlocutor era tailandês, coreano, japonês... Aí a conversa transcorria gaguejante, num inglês pra lá de macarrônico. Se eles entendiam o meu, não sei. O que sei é que nem sempre eu os entendia, porque às vezes o deles era pior ainda...