O Homem Bomba vai ao Paraíso
Para falar-se num assunto momentoso, seria bom que se dissesse novidades, fugindo-se do lugar comum, ou dos velhos preconceitos já desgastados pelos uso abusivo.
Ora, os judeus não são uns coitadinhos, muito menos os palestinos do Hamas o são.
Então não é necessário tomar partidos dogmáticos à favor de um ou do outro, apenas tentar entender o que está acontecendo.
Tenho visto os velhos argumentos anti-semitas ressurgirem de forma vergonhosa, acusando os judeus de uma conspiração financeira internacional, ou de dominarem o governo norte-americano, fazendo-o defender Israel de forma automática. Muito engraçado. Eu sou judeu há mais de 60 anos e nunca tesemunhei qualquer ato dos meus irmãos raciais que pudesse ser caracterizado como conspiração, municipal, estadual, nacional ou mundial. Vejo apenas alguns velhinhos que gostam de rezar juntos, ou fazer palestras, ou se unir para enterrar os seus mortos, coisa que qualquer outro grupo étnico faz. E, é claro, defender o estado de Israel, pois o judeu na diáspora defenderá sempre o Estado de Israel.
Outro dia vi um filme sobre o Irã, que tem uma comunidade judaica muito antiga, que os mostra numa relativa liberdade cultural e religiosa, tendo inclusive deputados no parlamente e que não apóiam o Estado de Israel, por motivos mais do que óbvios. Afinal o governo fascista iraniano enforca os seus opositores por muito pouco. Assim, o deputado judeu do parlamento iraniano foi capaz de falar mal do Estado de Israel e de entoar loas ao Ahmadinejad.
Quanto à assim chamada flotilha da paz, formada por seis navios e mais de 600 “ativistas” de mais de 60 nacionalidades, a maioria turcos, que levava “ajuda humanitária” para o povo de Gaza, o seu principal objetivo foi atingido: conseguiu-se levar o assunto “bloqueio de Gaza” ao noticiário internacional e ao Conselho de Segurança da ONU, uniu-se de forma unânime a população árabe numa cruzada contra Israel, mas, principalmente, estabeleceu-se a liderança da Turquia sobre a política do Oriente Médio.
Então, a partir de agora, a correlação de forças da política no Oriente Médio ficou diferente, o que vai obrigar a uma mudança da política de Israel e das potências ocidentais.
Agora, temos o Hamas apoiado pelo Hizbollah, que é financiado e armado pelo Irã, que tem o apoio de ninguém mais do que a Turquia, o antigo império otomano que já dominou todo o Oriente Médio e que volta a aparecer, agora do lado dos fundamentalistas teocráticos, dando nova substância à política do “Homem Bomba que vai ao paraíso”.