Sedução

Meus olhos infantis acompanhavam atentamente as mãos habilidosas do jogador. Com uma destreza impressionante, ele manipulava três dedais sobre uma tábua apoiada em cima de um caixote, pondo e tirando rapidamente uma pequena bolinha de pano debaixo deles. Depois de um tempo desafiava os presentes a dizer debaixo de qual dos três dedais ele havia deixado a bolinha.

No interior, onde a vida passa devagar e preguiçosa, sem ter muito que fazer, eu ficava maravilhado com a capacidade do jogador em iludir os “homens espertos” da minha pequena cidade. No início, ele deixava que acertassem, despertando a confiança. Depois, impiedosamente ludibriava a todos, quando, numa ilusão de ótica incrível, dava a impressão de que a bolinha havia ficado debaixo do dedal do meio. Os homens que se amassavam em frente ao improvisado palco de caixote, com toda convicção tiravam o dinheiro do bolso e apostavam à larga, certos de que ganhariam. Porém, depois do dinheiro caseado em cima da banca, com sarcasmo, o jogador convidava algum dos apostadores a levantar o dedal e, para a perplexidade de todos, mais uma vez a bolinha não estava lá. Alguns se indignavam, protestavam dizendo que ele não havia colocado a bolinha debaixo de nenhum dos dedais, então ele permitia que se levantassem os outros, e inexplicavelmente ela era encontrada.

Para mim, aos dez anos de idade, aquele homem era a grande atração dos finais de semana. Um verdadeiro mágico que limpava os bolsos daqueles homens simples do interior, mas que, estimulados pela própria arrogância, teimavam em acreditar que iriam ganhar das mãos ligeiras do ilusionista. É evidente que a ambição dos apostadores os levou a crer naquilo que estavam vendo, ainda que fosse só ilusão. Atraídos pela própria cobiça, eram facilmente seduzidos por aquilo que parecia ser.

Quando o modesto parque de diversões começava a ser montado na cidadezinha, eu sabia que naquelas noites frias das férias de julho, ele estaria ao lado da roda gigante com o seu caixote, os dedais e a bolinha, pronto pra enganar os “espertos”. Ele nunca apostou com criança, e eu também nunca tive dinheiro pra apostar, mas o show gratuito proporcionado por ele me fascinava. Seduzido, mentalmente eu apostava, e, como os homens da minha cidade, também perdia.

Laerte Cardoso
Enviado por Laerte Cardoso em 03/06/2010
Código do texto: T2296924
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