A grande pedra
Todos nós trilhamos a mesma estrada. Mas cada um a trilhará a sua maneira. Ela é cheia de pedras, umas menores, outras maiores. Algumas nem podem ser removidas, nós apenas as contornamos. Além das pedras do caminho existem as pedras que temos que carregar ao longo da jornada. Alguns tentam carregar mais do que podem e sucumbem com o peso. Outros precisam de ajuda, pois já nem podem com as poucas pedras. Às vezes nós próprios precisamos dessa ajuda. Não conhecemos o fim da estrada, para alguns o fim está bastante longe, para outros pode estar bem mais perto. Existe uma grande variedade de pedras. Pedras maldosas que nos machucam, pedras menores, sem importância e pedras raras pelas quais somos capazes de matar. Algumas nascem defeituosas e frágeis e precisam de cuidados para que não quebrem ou se esfarelem. Das pedras que carregamos. Algumas se desviam, rolam pela beira da estrada carregadas pela correnteza e acabam sumindo no lodo. Outras nós conseguimos resgatar e trazer de volta ao nosso convívio. Às vezes elas são muito grandes e não podemos transpô-las sozinhos, tal como a água que desse da montanha, procuramos os caminhos mais fáceis e quando encontramos um obstáculo, deveríamos seguir o exemplo da água. Ela pára e junta forças até ficar suficientemente forte e então supera o obstáculo, continuando sua caminhada, livre em direção ao mar. Como a água nós também temos um destino traçado, vamos todos em direção a grande pedra. A única das pedras que não pode ser superada, ela é grande demais, jamais alguém soube dizer de suas dimensões ou em que ponto da estrada a encontraremos. Só sabemos que todos a encontrarão. Não se sabe o que há além dela. Nunca alguém voltou para dizer o que há além da grande pedra. Para alguns a estrada é longa demais e já nem sabemos como ainda temos força para ultrapassar as pedras ou para ainda carregar as que ainda sobram as nossas costas já curvadas. Quando finalmente chega a nossa vez de encontrá-la, ao invés de nos esmagar como seres insignificantes, ela irá engolir-nos. Todos desaparecerão em suas entranhas, de volta ao útero eterno de onde emergimos.