RECADO DADO
 
Afinal, nesta noite de 02/06/2010, ao final desta quarta-feira, os filhos conseguiram dar o recado, que há muitos anos vêm tentando dar através de atitudes, situações chocantes, mudança de comportamento num intuito de um golpe que não machuque muito, mas desejado expressar os seus desejos de como a vida deva ser vivida.
O recado foi dado pela minha filha, de quem menos esperava.
Estou conseguindo falar porque tomei o calmante para dormir.
Tentativa, mas não impediu de eu pensar e “ouvir” um conjunto de itens, meias palavras, atos inconfessos, surpresas que golpeiam como uma guilhotina bem afiada, com um comando de descer lentamente de controles enquanto desce também a consciência, e que fira sem machucar letal, mas definitivamente.
Estou falando só para um leitor muito amigo. Tanto, que eu possa confiar. Não estou falando para um curioso aspirando uma crônica interessante. Nada divertido.
Poderia nada dizer e apenas absorver, e até adormecer. E tentei. Mas a Palavra companheira foi um apelo maior que o sono. Ela está me sustentando e dividir com outro, tenho uma esperança que me passe força. Necessária.
Trata-se do recado dos filhos para a mãe. Os filhos amam a mãe, mas não a agüentam mais há tanto tempo. Prefeririam que ela percebesse quando foi esta necessidade, sem deixá-los no embaraço de ter que tomar atitudes inadiáveis. Mas eles têm um limite que chegou “o basta”. Eles avisam que todos os laços se romperam, chegou a hora deles construírem seus novos hábitos e rituais. Tais, que a mim cabe apenas “aceitar, compreender e participar”. Eles pretendem criar novos comandos, o seu próprio mundo, e eu posso aceitar se quiser. E se não quiser não fará diferença nenhuma, até justificará seus objetivos ou argumentos para tal. Mas se eu aceitar o papel que me destinam seria a realização dos seus desejos e conquista de paz pessoal deles. Em suma, saíram da minha vida. Anseiam que o meu papel seja para eles pequeno, discreto e insignificante ou útil. Finalmente por um caminho longo e de percalços, conseguiram dar o recado.
No momento domina uma dor que não sei. A gente não morre de repente. A chamada morte natural vem construindo sentidos, em etapas. Será que eles sabem disso?Eles nem esperaram eu publicar o meu livro de escritos. É tanta coisa que podiam fazer e facilitar a minha vida de limitações pela idade, e não fazem; percebi afinal. Se fizessem, o suplício deles se prolongaria até quando ficassem velhos também?
Amanhã é outro dia. Talvez eu encontre força de viver mais só do que sempre fui. Talvez me interesse por outras coisas impensadas. Talvez acelere o livro só de desenhos e artes plásticas, sem textos, só visual contando um crescimento através da arte. Talvez um segundo livro de crônicas. Se não interessar mais, posso voltar pra serra e ficar um tempo de recuperação juntos meus bichinhos e simplicidades. Quem sabe?

Por hoje não faço fé, não. É um fim, o começo deles. Posso postar. Eles nunca lêem mesmo.
Preciso de ajuda para ficar mais forte.
 
Hoje perdi.