O presente de aniversário

A dona Helô é o tipo da pessoa distraída. Avoada. Não é pra menos, a herança é genética. Seu pai Archêro era aquele que abria a porta da casa, entrava até os fundos, e só então ia descobrir que aquela casa não era a sua. Ou então ia tomar o metrô, estacionava ao lado da estação, fazia a viagem, e depois tinha que pagar um garoto pra ir de estação em estação, até descobrir onde ele havia deixado o carro.

Mas se é verdade que ela vive com a cabeça nas nuvens, também, seja feita a justiça, não se esquece das datas de aniversário e gosta de presentear com generosidade.

Aliás, sua tia Rute estava pra completar 89 anos, e foi nela que a dona Helô pensou quando viu uma nova loja perto de casa, cheia de lingerie na vitrine. Logo pensou em comprar-lhe algo para dormir.

Com passo decidido, entrou e foi logo pedindo uma camisola para presente. A moça trouxe diversas, mas nenhuma agradava. Coisa pra jovem! Dona Helô, muito amorosa, tentou explicar: “Não, bem, você não entendeu. Minha tia é uma senhora de 89 anos. Essas daí têm muito pouco pano.”

A moça ficou desenxavida e disse que, infelizmente, então, não poderia atendê-la. A não ser que ela escolhesse um outro produto. Rapidamente a dona Helô passou os olhos pela loja e, pronto: avistou uma linda echarpe. Dava a volta no pescoço da manequim desnuda e, para prendê-la, havia um lindo coração dourado.

“Pode embrulhar pra presente – disse entusiasmada – tia Rute vai gostar”.

Mas na hora do pagamento, D. Helô só tinha cartão de débito. Não havia se preparado para a compra, entrou na loja por impulso. Cartão de débito? Nem pensar. A loja era recém-inaugurada, as máquinas de redeshop nem tinham sido instaladas, ainda.

“Tudo bem – disse a mocinha gentilmente – a senhora volta mais tarde e acerta a compra.”

Já em casa, conversando com o marido, mostrou-se satisfeita com a compra, mas chateada por ter que voltar mais tarde pra fazer o pagamento.

“É muito longe?” – quis saber o “seu” Ferrari.

“Não, é aquela loja nova que abriu no outro quarteirão”.

Desesperado com o mico que ela teria que pagar daí a pouco, ele pergunta esbravejando:

”Mulher, você sabe onde você comprou essa echarpe prá tia Rute?”

“Não!”

“Pois foi numa Sex-shop. E é echarpe pra usar pelada!”

Confusões à parte, tia Rute adorou o presente!

Talita Ribeiro
Enviado por Talita Ribeiro em 02/06/2010
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