Ciranda do Tempo.

O tempo é uma coisa engraçada e estranha.

Fico me lembrando quando criança tempo passava mais devagar, ou nós o percebíamos de maneira mais lenta, como se saboreassemos de forma mais delicada e fracionada cada gota ou colherada de segundo.

Quando se findava o Natal, logo após o saudoso almoço na casa da vovò, família reunida, papeis rasgados e bolinhas multicoloridas sendo arremesadas lado por lado, por sobre pessoas e enfeites, começavamos a pensar junto, a seguir o raciocínio da velhinha querida e tia , aliás uma segunda mãe para todos," até chegar o próximo Natal"...

Hoje e já há quase 14 anos sem os almoços festivos em família, após a partida precoce de nosso avô, ainda com 90 anos ( quem dera chegasse aos 120), o ano parece que virou um flash.

Vejam se concordamos: naqueles tempos de meninice na chegada do bom velhinho já estávamos de férias no máximo no início de dezembro e íamos até março, após os bailes de matinê no clube ( hoje nem matinê e nem férias longas) e quando chegávamos felizes ás salas de aula, para finalmente estreiarmos nosso material escolar novo, já pensavamos na Páscoa, na época com menos diversidade de ovos e bem menos ou nenhuma preocupação quanto ao colesterol, gordura trans ( nem existia no vocabulário), glicose e susto na balança.

Maio vinha com festas para mães, junho era delícia. Festas juninas, guloseimas ( cocadas, pé de moleque, canjica, broa de milho, e tantas outras que hoje só de pensar já engorda) e o melhor as férias de julho que iriam chegar e durar quase um mês. Agora ouço minha filha de 14 anos dizer feliz " em julho vou ter uma semana de férias".

Mas ela e sua geração e as futuras gerações não vão andar de bicicleta, passear na casa da avó, os meninos não vão ter tanto tempo tempo para colorir o céu e os fios com pipas. Aliás, agora tudo isso é meio fora de moda, o legal é a internet, o videogame, a tv e os mp já nem sei em que número está, sem falar dos celulares que faltam teletransportar ( o que vai acontecer em futuro próximo).

Agosto, vento sul, chuva fina, frio, volta as aulas, festa do papai.

Setembro desfile escolar. Adorava ser baliza fazer coreografias e curtir cada batida da banda. Agora quese nem vemos desfiles e no meu caso em particular, se tentar uma coreografia daquelas, terei que ser levada ao Pronto Socorro para me destravar músculos, tendões e até ossos. As fotos tiradas ( ainda de papel) e guardadas com carinho servem de riso e viram mico entre a garotada. O que é baliza?

Outubro era mágico Dia das Crianças, mimos de toda família e claro poucos dias antes de entrar de férias, o que geralmente acontecia no final de novembro, início de dezembro. Mas espere aí voltamos ao começo. Do ciclo e do texto.

Mas aprendi que o tempo foi criado pelo homem e hoje como castigo, ele, o próprio tempo nos escraviza, sob seus ponteiros gulosos que engolem horas, dias, meses e ás vezes parece que até o ano em uma louca, inesperada e rápida ciranda.

Márcia Barcelos.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 02/06/2010
Código do texto: T2295114