Quando a fé é forte, a vida se torna duradoura

Quando a fé é forte, a vida se torna duradoura

Ontem estava em casa e resolvi fazer uma visita a dona Noemia, esse é o seu nome. Uma mulher negra, mãe de oito filhos, sendo dois do segundo casamento. O primeiro marido foi morto no campo em plena atividade canavieira, pela ditadura militar nos anos sessenta. Ela ficou com seis filhos pequenos e foi continuar a luta trabalhando na palha da cana.

Os filhos cresceram com muito sacrifício, porém com muito amor e uma educação para a vida de uma forma extraordinária. Ela possui um jeito de ver a vida com um senso de justiça impressionante. A vida foi sempre dura pra ela, mas em nenhum momento ela desanimou, sempre afirmando: “tudo é como Deus quer, e eu vou vencer com a ajuda dele. O tempo passou, os filhos cresceram. À época o sindicato dos trabalhadores rurais da cidade de Cabo de Santo Agostinho, onde residia à época, acionou a justiça impetrando um processo em favor das vítimas fatais do período ditatorial no Brasil.

D. Noemia continuava firme na sua esperança de que tudo iria melhorar. Com o reordenamento das leis com a Constituição de 1988, onde foi possível os processos virem à tona. Num determinado dia o sindicato rural da Vitória de Santo Antão, onde ela reside hoje, a procurou entregando um envelope que continha o seguinte: Uma carta de um advogado de Goiás, solicitando algumas confirmações documentais, e informando que a mesma foi contemplada com a decisão do processo judicial do seu marido e que havia uma quantia a receber e com data a prescrever, in formava ainda o número de um telefone para contato. Ela me procurou para ler o referido documento me perguntando inclusive se devia acreditar. Incentivei a prosseguir e ela o fez.

Para surpresa dela o referido advogado veio à casa dela e por fim recebeu uma quantia considerável. Ajudou a todos os filhos com o que foi possível e comprou uma casinha, onde a visitei ontem.

Mas para completar a constatação de que fé é imprescindível e importante vejamos. Ela sempre vivia doente, passava mal ia ao hospital, voltava e depois outra crise, e outra e outra. Os médicos diziam apenas, é a pressão. Num determinado dia ela foi a uma oftalmologista, e no exame a médica constatou que d. Nega era portadora de um problema grave no coração, e sugeriu que ela fosse ao hospital Oswaldo Cruz, especialista em doenças do coração. Tendo ainda entregado uma carta com encaminhamento a seu marido, que é cardiologista. Ela foi, fez vários exames e constatou que era portadora do mal de chagas, e começou um tratamento, há cerca de treze anos. Há cerca de quatro anos num cateterismo que fez, constatou-se que noventa e oito por cento de suas artérias estariam obstruídas, tendo o médico dito a sua filha que ela teria cerca de seis meses de vida, e que poderia ser também a qualquer momento. Um ano após esse diagnóstico voltou ao médico para acompanhamento e o mesmo ficou surpreso ao ponto de dizer: Minha senhora você está viva¿ já sei que o seu Deus é muito forte. Há dezoito meses numa biópsia de tireóide, constatou-se um câncer e a médica falou que não podia tratar porque o problema do coração era muito sério. Enfim ontem a visitei e diante de tudo que foi constatado ela continua resistindo e com muita alegria, sendo inclusive conselheira de toda família e de quem quer que chegue perto dela, sempre dentro da justiça e da confiança imensa nos poderes de Deus. Com um detalhe ontem também cortei o seu cabelo e ao me despedir ela falou: obrigada e que Deus lhe acompanhe. É linda o seu otimismo.