DÁ PRA ACREDITAR?
Vou pela rua. Vejo-a vindo em minha direção. Nada sei sobre ela. Nem ela sobre mim. Alguém nos apresentou numa festa. Assim de leve, casualmente. No entanto, nos cruzamos todos os dias. Não somos amigas. Mas nos reconhecemos, claro! Acho que vai para o trabalho. Ela deve pensar o mesmo a meu respeito.
Parece combinado. Nosso encontro é sempre à mesma hora, no mesmo lugar. Devemos sair de casa no exato momento uma da outra. Andamos os mesmos passos. Gastamos o mesmo tempo. E nos cruzamos em frente à prefeitura. Ela é pontualíssima. Eu também. Portanto...
Temos um hábito. Ao passar por mim ela sorri “Oi, Marina!”. Guardou meu nome. Eu também sorrio, mas só digo “Oi”. Por quê? Porque não guardei o nome dela. Sou péssima pra nomes. Apresentação muito rápida. Acabei esquecendo. Ou não prestei atenção. Fazer o quê? Não posso pará-la na rua e dizer “Como é seu nome?”. Logo ela, com seu simpático “Oi, Marina!” de todos os dias? Não, fica feio isso...
Eu indo, ela vindo. Sempre no mesmo bat-horário, no mesmo bat-local, na mesma bat-rotina! Sei tudo que vai acontecer. Vamos nos olhar. Vamos sorrir. Ela vai falar meu nome e... Eu vou dizer “Oi”. Pronto! Vamos seguir nosso caminho. É isso! E tal qual imagino, acontece. Nos cruzamos. Sorrimos... Súbito, não sei como, nem por que, olho bem pra cara dela e digo “Oi, Marina!”. Ai, Santo Deus! Que isso? Que fora é esse? Puxa, quero morrer! “Oi, Marina”? Faça-me o favor, Marina! Desta vez você se superou...