QUAL É O CONCEITO DE DIGNIDADE?

Neste último domingo um jornal de São Paulo trazia na sua capa de rosto uma enorme reportagem sobre a tão defendida melhoria das condições de vida da população brasileira...nos ultimos anos.

Confesso que não me houve tempo de ler a reportagem inteira, mas ali claramente se percebia que a sua finalidade era a de mostrar e comemorar o efeito que a atual política de governo vem provocando nos "status social' das classes menos favorecidas, cuja melhora decerto é a vontade de toda a nação independentemente de legenda política, A B ou C.

Melhorar deveria ser o foco de todos.Melhorar de verdade!

Se de fato melhorou, um pouco que seja, já nos é de bom tamanho em face a tanta miserabilidade que ronda entre nós, a olhos vistos.

Porém, sempre que vejo as notícias, algo me incomoda muito, porque o que ouço, como diversas vezes já escrevi por aqui, não bate muito com o que vejo. E acreditem, tenho visto muito! Fatos que nem Deus do céu acreditaria...e acredito que o nosso "deus da terra" também não.

E nesse ponto contraditório é que sempre me pergunto: O quê, afinal, entendem nossos técnicos e dirigentes como melhora social? Qual é o critério sociológico que qualifica a tão comemorada melhora?

Qual e o critério temporal da melhora? É melhora imediatista ou melhora a médio e longo prazo?

É melhora educacional? É melhora profissional? É melhora intelectual?

É melhora tecnológica?

Estamos plantando um país melhor ou estamos satisfazendo as necessidades consumistas da população, apenas aumentando seu poder de compra? E o consumo realizado denota REALMENTE melhora do status de vida?

A aparente melhora tem lastro de investimento cultural e social?

Todas essas perguntas eu venho me fazendo e aqui eu queria exemplificar meu pensamento no que vimos hoje na cidade de São PAulo.

Infelizmente vou pegar carona na analogia com uma tragédia, posto que mais uma vez uma pobre comunidade se viu consumida pelas labaredas de um grande incêndio.

Sessenta barracos denominados "casas" foram destruídos, trezentas pessoas estão desabrigadas, não obstante, muitos dos seus pertences foram salvos, e pelo asfalto via-se, geladeiras, fogões, máquinas de lavar roupa, micro-ondas, aparelhos de som, que perplexos, juntavam-se aos seus assustados donos, no triste cenário de destruição das suas parcas acomodações.

Pertences novos, produtos do aumento do poder aquisitivo das "pessoas melhoradas", que agora igualmente a elas também são novos pertences "sem teto".

E mais um vez lancei-me à insistente pergunta: Qual seria , de fato, o conceito de dignidade humana? Seria o cenário de vida que ali se consumia nas labaredas?

Paralelamente a mais uma das incontáveis tragédias sociais de São Paulo e do país, é assustador o número de pessoas que vivem nas ruas, paradoxalmente num país que insiste em dizer que melhoramos.

Cresceu vertiginosamente mais esse triste problema social aqui pelas ruas, inclusive dos ditos bairros nobres.

Decerto estávamos TÃO abaixo da linha da dignidade sustentável que trazer a população um pouquinho acima já seria um grande feito. Entendo que sim e cumprimento os protagonistas do grande milagre da MELHORA.

Para terminar, hoje passando pela calçada duma Unidade básica de SAÚDE, vi a seguinte inscrição, na verdade uma convocação à pequena parte da população alfabetizada:

"SR USUÁRIO DA UNIDADE DE SAÚDE FAVOR RECADASTRAR O SEU BOLSA FAMÍLIA"

Claro que em ano de eleições, tal chamado trata-se duma mera coincidência logística.

Afinal, uma unidade de saúde há muito deixou de promover apenas " a saúde".Isso quando ainda atinge o árduo objetivo de pormovê-la!

Hoje até a saúde, aliás muito doente, se tornou palanque e cenário dos recastramentos dos planos e das táticas eleitorais.

Um cenário refém da indignidade...

Deve ser através dessa complexa engrenagem que tudo por aqui melhorou...

DIGNIDADE BRASIL!