O padre brega
Leio na coluna de Josa que o padre Jardiel, de Mari, revelou na missa matinal que gosta de coisas bregas. “Eu gosto de coisas bregas mesmo. Barriga de pobre só dá certo com essas coisas simples, se for negócio sofisticado demais, não aguenta. Então é bom comer bolachas três de maio, sete capas, essas coisas assim”, revelou Jardiel.
Recentemente, ele recebeu votos de aplausos da Câmara Municipal da cidade. Um sujeito metido a espírito de porco já foi logo dizendo que os vereadores são uma confraria de bregueiros. Mas o que é brega mesmo? O dicionário diz que brega é um gênero musical de cunho popular. Entretanto, a denominação, originalmente de cunho pejorativo e discriminatório, foi sendo incorporada e assumida. Brega também é o deselegante, feio, de mau gosto, barango.
O padre falava em matéria de comida. Pela primeira vez ouço alguém classificar alimento como brega. Ao assumir sua condição de comedor brega, a declaração do padre Jardiel implica em incluir os demais ingredientes bregas.
Durval Barbosa é missionário no sudeste asiático, junto com sua esposa Cátia Rocha. Ele garante que ser brega é não ofertar para a Igreja, não ser dizimista fiel, comprar CD pirata, ouvir músicas mundanas, falar mal dos irmãos e, defender sua religião mesmo contra a Bíblia, é ser brega ao quadrado. Comer bolacha “quebra queixo” não faz parte da lista.
Outros garantem que brega é algo ultrapassado, tipo bibelô de patinho, anjinho, cachorrinho. Coisas de mau gosto igual a casar de véu, grinalda e buquê. Gente velha querendo parecer nova também é o máximo. Xuxa, beirando os 50, fazendo programa infantil, não dá vontade de vomitar? Lulu Santos com aquelas roupas adolescentes. Não se trata de ter espírito jovem, que isso é fascinante. Mas veja que coisa brega aquela atriz, Susana Vieira, que acha que não passou dos 20 anos.
Agora vocês me desculpem pela sinceridade, mas acho que em matéria de religião, ser brega mesmo hoje em dia é ser evangélico. Se Sílvio Santos e seu cabelo acaju é brega, o que dizer do penteado de Sônia Hernandes? Em sua defesa, sabemos que os evangélicos são compostos majoritariamente por pessoas da classe C, D e E. Portanto, seria difícil vê-los usando Armani, Gucci ou Prada, tendo gostos sofisticados.
Brincadeiras à parte, ser crente hoje tá na moda mesmo. Um nicho poderoso de mercado, vendendo milhões em CDs, DVDs, livros e outros artigos. São redes de TV e rádio dando cobertura para esse mercado milionário da fé. Para mim, representam interesses de poucos a iludir uma minoria. Isso eu acho super brega e asqueroso.