A caminho da vida
Vai pela manhã, como se não houvesse destino, ponto de partida ou paradeiro, a única companhia a lhe espreitar é a incerteza, amarga e impura incerteza, em seus olhos opacos pela dor e injustiça, traz lágrimas e em sua mente dúvidas; Continuar a viver? Desistir sem lutar? Tentar ou esquecer?... Na verdade não importava mais, tudo de palpável já lhe fora tirado. O concreto e o real já se extinguiram, assim como os sentimentos. Restando somente dor.
Caminha em meio a carros, ruas e pessoas. Fuligem é seu alimento agora, sustentando suas células, monóxido e dióxido de carbono o alimentam, em meio à confusão eterna de formigas a vagar sem rumo. Vê-se sozinho em meio, a multidão! De que se lembra? O que aprendera todos esses anos? Do que lhe serviu, trancafiar-se nas veredas do saber? Chega a conclusão que de fato nada lhe seria útil, em uma humanidade que incentiva a busca por sonhos, mas, no entanto mede caráter em grau de proventos, e que se permite medir o valor de um homem em papel moeda.
Vislumbrando a injúria segue seus passos lentos, sólidos, sóbrios e serenos; em sentido ao que há muito não faz sentido. Nada fizera de notável e o que fizera não é mutável, pois não se pode fazer o que ama, sem que tenha preço comercial. Não seria conivente com o lixo a lhe cercar, tampouco teria forças, pra tentar mudar a sociedade vil que lhe estragara e condenara a viver como anônimo, mais um José entre outros tantos, mais um ninguém que não tem voz. Só um refém do que a roda viva escolhe pra nós.
Segue perdido em meio a gritos e empurrões e a cada etapa, da jornada diária toma certeza de que, não existe. Apenas vaga, por tortuosa via que se transformou sua vida. Onde estaria toda aquela vontade de lutar? Perdera-se, como muitas outras coisas em meio de embaraços e mágoas. Deram lugar ao ódio, frustração e vergonha, que lhe fora impostos pela visão dos heróis, ídolos, mestres, afetos, desprazeres, dívidas, responsabilidades de outrora serem destruídos. Por fim soçobra esperança. Este homem sou eu... Este homem é você.
Rio de Janeiro, 01 de outubro de 2009.