SERIADOS E MATINÊS

Entre as minhas amizades, conto com uma muito especial, é a de Juarez Mandelli, além do churrasco das quintas, possuímos outras afinidades, entre elas o mesmo gosto pelos filmes antigos, e com os quais, ele muito tem muito contribuído para minha pequena coleção, especialmente com os SERIADOS.

Não sei se em todo o país, mas os cinemas aqui do sul, lá pelos idos dos anos cinqüenta, dominicalmente exibiam a sessão das 14 horas, ou a matinê das duas. Reunião obrigatória da gurizada. Antes da entrada na sala de exibição, a algazarra era enorme, travava-se de uma grande negociata: a troca ou venda de gibis. Adentrava-se a sala, uns dez minutos antes das portas serem fechadas.

Apagadas as luzes dava-se início a programação: primeiro o tele-jornal Canal 100, logo após o seriado e por fim o longa-metragem. Os seriados, tinham como heróis, Batman, Durango Kid, Tarzan, Capitão Marvel, Flash Gordon e outros tantos. Pois o meu amigo Mandelli tem me conseguido algumas dessas preciosidades, a última foi uma série do Batman filmada em 1943. Essas produções, em preto e banco, eram feitas sem o mínimo de tecnologia, e pouco investimento, mas contando com a curiosidade e boa vontade da assistência.

Todo o domingo era exibido um episódio, o qual sempre terminava em um grande suspense, quando não era a mocinha que ficava em perigo, era um parente próximo, alguém importante do “bem”, ou com o herói em uma situação praticamente sem salvação, pensando bem, nunca vi sogra em tal situação, sei lá, poderia haver alguma relutância em querer salvá-la.

Mas voltando ao Batman, primeira cena do primeiro capítulo: ele em primeiro plano, cotovelos a mesa, pensativo segurando a cabeça, ao fundo, no que parece ser uma parede de rochas, passam sombras de morcegos, dando a idéia de que ali seria uma caverna. Seu cinto de utilidades conta somente com os bolsos, coisas que lhe possam ser de alguma valia, tipo gases, cordas elásticas, não tem nenhuma, em uma próxima ação, acompanhado do Robin, e tendo que chegar a um terraço, puxa a escada de incêndio e dá início a escalada. Apanha sem restrições, e sem dublês. Os bandidos, não importando os golpes que levem, nunca perdem os chapéus. A mocinha, uma bela atriz, com os cabelos encaracolados e com um impecável bucle na testa, está sempre pronta a atender uma ligação telefônica, sair em disparada diretamente para entrar em uma fria, não sem antes pegar a bolsa e colocar um chapéu.

Quanto a essa trama, que se desenvolve em quinze episódios, envolvendo um chinês, e o desfecho de tudo, resolvi contar-lhes daqui quatorze semanas, pois me dispus a assistir um capítulo a cada domingo, com as luzes apagadas, e iniciando exatamente as duas horas da tarde.