Um terno e muito mais

Todas as famílias experimentam o problema de juntar coisas dentro de casa e, consequentemente, o de tirar coisas de lá para que as pessoas não corram risco de ficar soterradas no acúmulo de livros, roupas, presentes, objetos que amam e, até, aqueles que nem fazem questão de ter, mas dos quais não conseguem se desfazer.

O problema do Marcos de colecionar roupas foi resolvido pela Tereza com o advento do Brechó da Creche. Todo novembro ela dava uma aliviada no armário, mandando casacos, camisas, calças e até ternos – quase sempre em perfeito estado, pois a Teca, além de querer manter a casa em ordem, era muito generosa.

Foi assim durante vários anos até que, um dia, o Marcos baixou uma portaria dizendo que nada seu poderia mais ser tirado do armário sem sua autorização. E a Teca obedeceu.

No fundo foi providencial porque, passado algum tempo, o Bruno, filho único do casal, de 16 anos, começou a participar do grupo de teatro do colégio e precisou de um terno.

“Ah, filho, acho que o do casamento vai servir, porque naquela época seu pai tinha mais ou menos o corpo que você tem hoje. É impressionante como a sua geração é mais desenvolvida, físicamente, do que a nossa era!”

Por uns 40 dias o Bruno ensaiou fantasiado de homem de negócios, sem problema algum. Tanto que o terno passou a morar na mochila e ia com ele pra cima e pra baixo, a pé, de carro e de onibus.

Certa manhã, a Teca tomava café sossegadamente quando foi surpreendida por um berro: “TEEEECAAAA!!! Você deu meu terno do casamento pro Brechó?”

A Tereza suspirou aliviada.

“Claro que não, querido. Nós não combinamos que eu não daria mais nada sem a sua autorização?”

“Então, onde é que está o meu terno?”

“Calma, querido, está na mochila do Bruno, lá no colégio. Na hora do almoço ele volta.”

“Pois eu espero que ele volte com a mochila e com tudo que estava lá dentro; não só o terno, mas também os US$ 800,00 que eu guardei, por segurança, no bolso interno do paletó!!!”

Esperou. E não é que voltou tudo, mesmo? Pois é!!!

--------

Obs.- Os nomes verdadeiros foram substituídos para preservar meus amigos.