O HOMEM QUE PEGOU O BUQUÊ

Superstição nunca foi o meu forte. Contra o mau olhado eu não carrego o meu patuá. Prefiro simplesmente ignorar. Simpatia pra encontrar a pessoa certa? Pra mim é balela. Amor gosta de brincar de pique-esconde, e se esconde muito bem, por sinal, e não será com essas artimanhas baratas que você o encontrará. Mas como o acaso gosta de me pregar umas peças de vez em quando, experimentei, da pior forma possivel, o inverso desse meu raciocínio.

Era um casamento. Ocasião mais adequada não poderia existir. Casamento é o apogeu do amor. Já disse outras vezes que o amor gosta de ser protagonista, e nesse caso, de fato, ele é. Celebrar a união de duas pessoas significa celebrar o amor em sua amplitude. A festa é toda do amor, os noivos apenas o intercedem. Mas quem não gostaria de estar no lugar deles dois? Tiveram a sorte - quase uma benção- de encontrar a pessoa que os preenchessem em todos os sentidos, a ponto de compratilharem de mútuo amor para o resto de suas vidas. Dá até uma pontinha de ciúmes, não dá? Pois bem, para dirimir esse sentimento, a noiva divide um pouquinho da sua sorte com os convidados, jogando o buquê. É aí que começa o meu martírio...

Esse é um dos momentos mais aguardados do casamento, principalmente para as encalhadas. Quem não gostaria de ser a próxima a se casar? Era unanimidade. Chute, dedo no olho e puxão de cabelo não eram proibidos. Um verdadeiro vale-tudo feminino! Eu, malandramente, me posicionei pouco mais ao fundo pra assistir a tudo isso de camarote. Mas como eu imaginaria que a noiva miraria o buquê bem na minha direção? É constrangedor, mas tenho que admitir: Peguei o buquê.

Não me peçam pra entrar em detalhes. Meu grau de ebriedade, e se, de fato, o buquê "me pegou" são assuntos descartados. Não pretendo dar início à uma autodestruição da minha imagem. Essa flagelaçãozinha já está de bom tamanho. Mas imagino o quão revoltada ficara a noiva, que, no intuito de desencalhar alguma de suas amigas, arrumara casamento pra um marmanjo barbudo e metido a escritor. Deve ser frustrante...

Mas o problema veio no dia seguinte. O buquê ali, em cima da mesa, olhando pra mim como se dissesse: "Agora corre atrás do prejuízo, garotão!" Desde então, parece que tenho sido assombrado pelo buquê, e aquela velha história de deixar o amor me encontrar não cola mais. Preciso fazer jus a essa secular tradição! Já pensou, eu, quebrando essa corrente? Nem pensar! Amor, socorro! Me ajuda!

Não passo mais por debaixo da escada. Fujo de gato preto. Não carrego um patuá. Carrego dois. Hoje sou a superstição em forma de gente. Não mudei de uma hora pra outra, apenas fui atingido em nosso maior ponto fraco.

Brincar de azar com o amor? Eu, hein, tô fora...

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