A Joaninha Nini na Escritolândia

Fábula escrita pela grande amiga Denise Severgnini

Escritolândia é uma nação como qualquer outra deste nosso planeta. Apenas não é membro da ONU, pois está situada na fantasia de cada um. Também pode ser chamada Terra da Escrita.

Seus residentes, qualquer ser vivo, animal ou vegetal, abrolham com ânimo criador para as letras. Há aqueles que não o ampliam.

Nini, a joaninha, desde bem menina, encontrou e desenvolveu seu dom.

Ela ascendeu numa família habitual, como quase todas as do país. Aprontado o curso de magistério, prestou vestibular para Letras e passou com louvor.

A UFESC (Universidade Federal da Escritolândia), um estabelecimento de ensino superior, cujo lema é “Se queremos um aluno crítico reflexivo, é preciso um professor crítico reflexivo.”

Nini gosta das aulas de poesia com tema livre, onde os alunos podem fazer treinamentos poéticos sobre variados assuntos, ora providos pelo mestre, ora por eles mesmos (os alunos).

O ministrante da disciplina é Excelentíssimo Senhor Doutor Leuko Romanesco, um avestruz de plumachos pretos com a ponta das asas brancas. Devido à miopia, usa óculos de grossas lentes. Ele tem primazia pelas coloridas. A cada aula, vem com uma cor distinta.

Nessa manhã, Nini acorda-se revoltosa. Sua aluna foi vítima de pedofilia.

O assunto do dia, recomendado pelo colega Seno P. Erspykaz , fora “A vida como ela é”.(Seno descende de uma família carcarás altamente politizada.)

Nini sente-se muito motivada e abona asas ao seu entusiasmo criador.

Ela compõe um extraordinário poema, bastante critico e reflexivo sobre o contexto o qual a perturba na época presente.

Professor Romanesco solicita a todos os discípulos que leiam seus escritos para os confrades.

Quando chega a sua vez, Nini declama o seu poema “Amigo “das Crianças.

Os colegas sensibilizam-se com seu texto e demonstram solidariedade a ela, por todo sofrimento que havia suportado por sua aluna e também por ela mesma.

Ao perceber a atitude de todos os alunos, Excelentíssimo Senhor Doutor Leuko Romanesco, coloca-se numa atitude defensiva.Diz a Nini,que este não é o tipo de poema que ele deseja ouvir em suas aulas.Estufa seu peito, fala a todos que a poesia deve ser lírica, as pessoas não querem ler coisas tristes.

Nini desculpa-se, dizendo que isto não se sucederá mais.

Excelentíssimo Senhor Doutor Leuko Romanesco, tenta remediar a situação, afirmando que sua fala não é uma censura, mas sim uma forma branda de contornar uma circunstância.

Seno P. Erspykaz tenta argumentar com o professor sobre o verdadeiro papel do escritor nos dias atuais, mas é “democraticamente” admoestado.

Aparentemente, Nini aceita a retificação do professor, até chega a manifestar ambíguo agradecimento.

Vai para sua casa, onde seu novo amor poeta a espera de braços abertos. O restante do dia transcorre tranquilo para ela, pois o amor sempre opera milagres na existência.

Num cantinho da sala de aula, durante o incidente acontecido com Nini, a , uma aluna discreta e pouco falante, pensa:

_ “Se queremos um aluno crítico reflexivo, é preciso um professor crítico reflexivo!”... Porém, o Professor Romanesco deve estar vendo demais as novelas da Rede Bobo.

“... Elas mostram a vida como um mar de rosas...”

E foi por isto, que ele Senhor Leuko Romanesco advertiu Nini publicamente, quando o lema da universidade diz que alunos e professores devem ser críticos e reflexivos.

Realmente, repensa a coruja Dione, nesta sala de aula não é sempre cumprido o lema. Vale o velho dito popular: ”Papel aceita tudo”...

Nini ainda volta às aulas do professor Romanesco, porém Dione aparece mais alguns dias e descontente, se retira quieta e discreta, como uma coruja sempre deve ser.

Denise Severgnini

Gilnei Poeta
Enviado por Gilnei Poeta em 29/05/2010
Código do texto: T2288115
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