DONA ESTER E SEO MILTON

DONA ESTER E SEO MILTON

Que necessidade há de classificar e nomear tudo? Não bastasse o nome dos logradouros, subdividimos bairros e trechos das ruas em regiões informais. Os nomes são os mais curiosos. Aqui por perto temos Zeca Madureira, Pirata, Ponto. A toponímia popular é interessante, por vezes poética como em Porta d’Água, uma pequena ponte sobre um canal. Ficaria horas escrevendo sobre os nomes interessantíssimos e, na maioria das vezes, não oficiais dos lugares em minha cidade. Isso será matéria para futuros textos. Agora quero falar da Dona Ester e do Seo Milton. Esses dois falecidos moradores acabaram por dar nome a um trecho da Rua Humberto Fernandes compreendido entre a General Horta Barbosa e a rua principal.

Dona Ester era dona de um bar desde a época em que era miúdo e seus filhos todos ainda solteiros. Toda vez que precisávamos de alguma coisa de última hora, mandavam-me descer a rua e comprar na Dona Ester. Naquela época os bares não vendiam somente bebida. Havia doces, velas, fósforo, pães comprados na padaria e revendidos assim como o leite em sacos plásticos.

— Acabou o fósforo. Vadinho, compra uma caixa na Dona Ester para mamãe.

Descia correndo.

— Oswaldinho... Como vai a Dona Eni? E o Seo Oswaldo?

Dona Ester era uma senhora muitíssimo agradável, baixinha, de óculos redondos e cabelos acinzentados. No meu egocentrismo infantil, era uma das melhores pessoas do bairro porque não saia de seu bar sem algumas balas no bolso. Subia a rua feliz da vida.

O tempo passou só um pouco. A Dona Ester fechou o bar. Continuávamos a descer para fazer compras. Só que dessa vez na quitanda do Seo Milton. Também vendia bebidas. Mas o principal eram os legumes e as frutas além de carne seca, arroz, feijão etc... etc... Até sabão em pó havia por lá. Mas continuávamos a descer até Dona Ester. Vamos apanhar o ônibus no ponto de Dona Ester. A referência persistia por muitos anos. Toda vez que precisávamos abastecer nossa geladeira e fruteira, íamos ao Seo Milton. Agora o lugar passou a se chamar de Seo Milton.

O tempo continuou passando. Seo Milton faleceu. Seu filho assumiu, mas não deu nome à própria quitanda. Dona Ester também morreu sem que as gerações posteriores a minha soubessem que passavam em frente ao antigo bar.

Quando se toma uma van, pode-se pedir ao motorista para parar no Gás. Pelo menos por enquanto. As referências por aqui são pessoas vivas ou estabelecimentos ainda de pé. Seo Milton se foi. Dona Ester descansa. O depósito de gás não funciona. Quem dará nome à quadra? Aparecerá alguém para um novo topônimo interessantíssimo? Teria balas e balança honesta? Enfim... Todos saberão dimensionar muito bem o seu lugar no espaço.

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 29/05/2010
Código do texto: T2287845
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