AMANTES NO MOTEL

Vai começar tudo de novo; todo ano é a mesma coisa no Natal, Carnaval, dia das mães, dos pais, dos mortos, dos vivos, dia do padre e no dia dos namorados. As mesmas cenas se repetem, com motéis abarrotados de pessoas fazendo amor e enchendo a cara de champanhe nacional barata e os restaurantes com as mesas lotadas de velas acesas, como se apontasse um ritual de iluminação pelo dia dos amantes.

Lojas de lingeries vendem todo o estoque, as perfumarias completam o mundo mais perfumado; quem pode dá uma jóia cara e quem não pode dá uma bijuteria barata; quem consegue, chega a tempo para um beijo e os que não se importam, simplesmente esquecem que os casados também são namorados; é uma “melação” dos diabos e o resultado para muitos é uma alta fatura no cartão de crédito no final de junho; também há outros resultados, um deles é o segundo maior índice de partos no mês de março e muitos relacionamentos se rompem com o encontro de outros amantes, justamente no dia dos namorados.

No meu ponto de vista, que ninguém aceita ou gosta, 70% de todos os amantes que comemoram com mais rigor a data de 12 de junho o faz por mera obrigação, porque no restante do ano, geralmente, trata o parceiro a pão e água, mas para não deixar morrer a chama do amor e da paixão, compram roupas novas, reservam o motel e passam no supermercado para comprar uma Sidra, daquelas que matam diabéticos no primeiro gole e que dá uma baita dor de cabeça no dia seguinte.

Outra prática muito comum neste dia é a venda de flores e por falar nisso, me lembro de um amigo desavisado que em certo 12 de junho, sem saber bem o que dar a novíssima namorada, passou numa floricultura e viu um cartaz grande apontando uma promoção de cravos brancos; não pensou duas vezes e levou um imenso buquê para a gata; acabou pagando um micão, primeiro porque cravos são para homens e segundo porque a moça sabia bem disso e não lhe perdoou...!

Diz à história que a data era para venerar São Valentim que fez jejum para alcançar uma dádiva do Imperador Cláudio II que havia proibido o casamento durante as guerras, mas na Idade Média o caso foi direcionado na questão do amor. Também dizem que o Bispo Valentim não só desrespeitou a ordem do Imperador, como também ele próprio se casou e que depois de descoberto, preso e condenado a morte, muitos jovens casais jogavam-lhe flores de presente. Antes de morrer Valentim escreveu extensa carta a sua amada e se referiu como “seu namorado” e “seu Valentim”.

Originalmente, principalmente nos Estados Unidos, a data correta é 14 de fevereiro, que eles chamam de Valentine Days; já no Brasil, se comemora em 12 de junho por ser véspera de Santo Antonio, o santo casamenteiro. Relatos muito novos atribuem a comemoração brasileira inicialmente feita pelo comércio de São Paulo no início do século passado, mas que depois ganhou todo os país, principalmente por ser uma das datas mais lucrativas do calendário comercial.

Tudo que lembrar o amor dos amantes e puder ser dado de presente, com certeza sofrerá majoração do preço nesta época a começar pelas promoções intermináveis dos motéis; no dia dos namorados os preços disparam nestes locais que geralmente estão abertos ao amor carnal das concubinas e de seus parceiros atônitos. Durante a escrita deste texto, liguei para o melhor motel de minha cidade e pedi o preço da melhor suíte para a data de hoje; a atendente me disse que 24 horas na Suíte Vênus me custará R$ 500,00. Agradeci a indicação, desliguei e minutos depois falei com o mesmo motel; desta vez pedi para reservar a Vênus para os dias 12 e 13 de junho; a moça me disse que para esta data o preço é de R$ 800,00 a diária, com direito a champanhe de cortesia.

Se pelo menos fosse regado a champanhe francês ou no mínimo um bom Proseco, mas não; o que eles dão no dia dos namorados é uma garrafa de espumante nacional que custa R$ 18,00 e os trouxas saem de lá lambendo os beiços...! Em geral somos assim; esperamos uma data festiva para que possamos externar nosso amor e nosso carinho por alguém, como se este alguém somente merecesse a consideração naquela data.

O cartão de papelão que é vendido nas papelarias é outro artigo que subiu o preço igual o foguete; antes da data eles ficam empoeirando nas prateleiras de fundo, mas agora não, recebem tratamento VIP e vão para as frentes de caixas, para que todos não se esqueçam de levarem os seus; sempre foi a opção mais barata, embora pouco original; os preços variam entre R$ 4,00 e R$ 150,00 uma única unidade. O mais caro só falta fazer amor com o dono; é um tal de barulho aqui e luzes piscando acolá e o tamanho é enorme. O sujeito que comprar um cartão destes mais caros e levar para os EUA pode ser preso por ser confundido com um terrorista, afinal de contas, o dito cartão que vi parece uma bomba...

Se você não encontrar o cartão barato e não puder ir ao motel restam-lhe poucas opções de presente de seu amante. Uma semi-jóia é brega, aliás, muito brega, portanto, se não puder dar algo de ouro, não invente nada de bijuteria. Ou é jóia ou não é nada; esta história de “semi” é invenção inútil de quem não teve grana para pagar um colar de brilhantes ou um anel de diamantes e você não caia na tentação de fazer o mesmo, porque a mulherada está esperta; vai jogar no lixo na primeira oportunidade que tiverem!

Jóia agrada homens e mulheres e há opções mais em conta de peças em ouro ou com pedras brasileiras de excepcional qualidade e que com certeza irão deixar sua noite ainda mais glamorosa; homens que usam correntes podem receber pingentes e mulheres podem receber brincos; há joalherias que vendem mais barato e ainda parcelam em “trocentas” vezes sem juros. Eu, quando me sobra uns centavos, vou sempre a Richter e não costumo reclamar, nem do preço, muito menos do atendimento.

Mas ainda há o restaurante legalzinho que você pode levar sua gata ou seu gato; procure antes, pelo Amor de Deus, ligar para fazer reserva e tenha uma idéia do que servem e de quanto custa em média, a não ser que vocês possuam “bala na agulha” para pagarem um jantar de gala regado a um bom vinho Sul Africano raro. Uma brincadeira desta, num ambiente razoável, sem muito luxo, vai lhe custar algo em torno de R$ 200,00 no mínimo e lembre-se: restaurante não parcela conta!

Se sua namorada não for apagada as coisas materiais, você pode parar o carro ao lado do churrasquinho da Dona Maria e pedir alguns espetos de filé miau regado a Baré Cola; se vocês curtirem um momento como este, tenham certeza que ou vão se casar ou já estão casados há anos! Se pretenderem fazer uma orgia telúrica e vão despachar as crianças para a casa da titia, lembre-se que titia também namora; vovó também namora e lugar de criança é na escola ou com os pais!

Voltando a lista de presentes, uma boa opção de qualidade e barata são os perfumes importados; dia dos namorados não compensa dar Boticário, Racco, Natura ou Água de Cheiro, muito menos pague um mico dando Contém 1 Grama; procure uma perfumaria de estilo e sinta o cheiro que você quer experimentar em seu amante naquela noite romântica; os importados são infinitamente mais bacanas do que os nacionais e os preços além de atrativos ainda podem ser parcelados igual a consórcio. Tem perfume importado para todos os gostos e todos os bolsos na linha dos importados; eu compro na WWW.zeros.com.br, aliás, eu retiro o que eu quero, porque a Zeros é de minha esposa...

Em sendo alérgico a perfumes, compre uma peça eletrônica, um celular bacana ou até mesmo um acessório de moda, como uma bolsa ou uma carteira de couro, mas, por favor, não cometam a gafe de dar lingerie como presente principal; roupa íntima é um complemento da noite, como forma de ilustrar a sua criatividade. Calcinhas de oncinha e cuecas com tromba de elefante podem ser engraçadas, mas a noite dos namorados não tem nada de engraçado; lugar de palhaçada é no circo e não num motel!

Homens executivos ou advogados de bom gosto amam receberem canetas, mas réplica não existe; falar em réplica é falar em muamba, falsificação. Se não puder dar uma Montblanc, dê uma Parker. Não invente de ir naquele shopping popular para comprar uma falsificação de caneta ou de qualquer outra coisa, porque tudo que vem da China não presta; quebra, vasa e pode até matar. Imagine a cena de vocês dois num motel e ele fazendo uma declaração de amor com aquela Montblanc falsa; imagine ela espirrando tinta tóxica pelo Bráulio dele e pondo um fim na festa e no romance?

Eu tenho um amigo que deu de presente uma camisa de uma marca tradicional e cara a outro amigo, no dia de seu aniversário; o amigo presenteado amou a camisa, mas ela ficou um pouco justa. No dia seguinte ele visitou uma loja da marca para trocar e o atendente o disse que ela peça era do Paraguai. Putz! Foi uma decepção e o maior mico que eu já vi. Até hoje quando nos encontramos gozamos muito a cara dos dois amigos...

Só dê roupa se conhecer bem o presenteado; a mesma regra se aplica para mídias de música como CD e DVD. Outra regra hiper brega e quase falida é o Vale Presente. Pára com isso e não fique inventando comprar aqueles vales presentes de R$ 50,00 nas lojas de magazine. Tem milhares de opções até mais baratas que atraem mais do que isso!

Falando sério, seja sua esposa (ou marido), noiva (ou noivo), namorada (ou namorado) ou “ficante”, trate-os sempre bem; ofereça um dia dos namorados a cada dia vivido ao lado dele (ou dela); lembre-se sempre que aquela pessoa poderá ser seu consorte, mas se não chegar a ser, que pelo menos haja a lembrança da dignidade dos dias que vocês viveram juntos. Com ou sem presente, com ou sem o motelzinho básico, no dia 12 de junho, chame seu parceiro para um beijo diferente, esqueça as diferenças e quem sabe nesta data não haja a solidificação da compreensão, do respeito e da esperança de vocês viverem até o fim, dia pós dia, como eternos namorados?

Desejo a todos, um Feliz dia dos Namorados, mesmo os que se afirmam solteiros convictos ou acidentais...

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

Meu site: WWW.irregular.com.br

CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 29/05/2010
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