A DERRADEIRA VISITA...
A lamparina continuava acesa. A porta entreaberta e o
radinho de pilha mal sintonizado, denunciava a hora da Ave Maria.
Logo à frente, o sino rouco da igrejinha, convidava timidamente
a gente do lugar para as orações cotidianas.
As árvores de uma paisagem triste, alegravam-se.
E juntas numa mesma coreografia, bailavam ao som das mulheres
carpideiras. Era chegada a hora de encomendar a alma do mais
ilustre morador. Depois de muita lida, muita dor e muito penar,
não precisou a morte bater-lhe à porta. Esta já se encontrava aberta
aguardando a derradeira visita. O chôro das carpideiras, sempre muito bem esnsaiado e pronto na ponta da língua, aguardava a hora do lamento. O melhor vestido, os lenços cheirando a nafitalina e os homens com seus encardidos chapéus na mão. Lá fora, nos céus do lugarejo, a lua gorda que se faz ainda mais gorda e mais feliz no mes de Junho, veio também para a festa de despedida, pronta a clarear a caminhada de toda gente do lugar.
O ilustre morador, agora já tão perto do chão e já tão cheio de asas, deixou eternizado no canto da boca, o sorriso que o tornou ilustre. Foi-se na cadência do vento para um tempo atemporal. Carregado de sorrisos em suas asas, foi-se passarinho...vai-te menino...faça-te anjinho!!