O TÁXI DA NIGTH
Final de expediente. Faltava pouco para ser a última vez que enfrentaria a artilharia pesada do trânsito. Mal podia esperar para começar a escrita de outra história. A única preocupação era com a dieta. Mas teria outros ganhos significativos. Economizaria na gasolina, não precisaria mais gastar seu suado dinheirinho em bares e restaurantes, pelo menos não nas preliminares; claro, não se estressaria mais na direção e, com sorte, ainda podia se dar bem com a companhia.
Quando soube da inovação, no meio de uma acalorada discussão entre dois amigos, ficou em cima do muro. Luiz defendia a implantação dos tais “assentos do amor” como a mais avançada – e abusada – ideia para descongestionar o trânsito; Sérgio criticava a postura dos governantes, dos empresários, dos usuários, dos motoristas, enfim, de todos os que compartilhavam da louca ideia, de implantar-se bancos contíguos em ônibus – seguindo o exemplo da Dinamarca – com a descarada desculpa de melhoria da qualidade de transporte.
– Coisa de inglês, isso, rapaz – inflamava-se Sérgio – coisa de inglês! Eu não vou trocar meu carro por um coletivo brasileiro é nunca! Nem por bancos vermelhos, nem por companhia nem por bombons Copenhague.
– Ô Sérgio, só você não vê cara, que não tem mais jeito! Chegamos ao fim do caminho! Ou se faz alguma coisa desse tipo ou ninguém mais anda nessa cidade. Melhor, quem não quiser vai ter que dormir no escritório, malandro. O preço da passagem vai ser o mesmo, não vai ter mais aquele empurra-empurra que se via pela tevê, do qual todo mundo reclamava. Vai ser uma beleza! Tudo limpinho, cadeirinhas vermelhas, todo mundo sentado, possibilidade de um bom papo, a gente nem vai ver o tempo passar!
– E a quantidade de ônibus, hein? Já pensou nisso? Onde fica a liberdade de locomoção dos carros, hein? Onde fica a liberdade de escolha do cidadão sem dívida pública nenhuma, hein? Você acha que isso vai dar certo, acha? Coisa de campanha política, meu amigo! Só campanha!
Do outro lado um outro amigo ouvia a discussão, envolvido mesmo com a cervejinha nossa de cada dia. Ele se aproximou:
– Ô Wagner, o que está acontecendo, hein? Eu ainda não entendi muito bem porque é que eles estão tão exaltados.
– Lê jornal, não é? Seguinte: lá na Dinamarca, para incentivar o uso do transporte público, implantaram assentos contíguos em todos os ônibus. A ideia é que isso melhore as relações entre passageiros, propicie encontros, namoricos, sabe como é? Daí, o cidadão fica animado para trocar o carro pelo coletivo.
– Mas isso é lá. Por que essa discussão?
– Está por fora, hein, meu? É que estão votando aí uma lei que proíbe o uso de carros nas vias mais congestionadas da cidade, por onde só vai poder trafegar esses ônibus aí, com os assentos duplos, que já apelidaram de “táxi da nigth”.
Ele parou, pensou. De repente podia ser uma boa
– Você é a favor ou contra?
– Eu? Nem a favor, nem contra. Muito pelo contrário, eu vou é na onda. Danço conforme a música, que é bem melhor do que ficar esquentando cabeça.
Ele parou, pensou de novo, se viu lá, ao lado da vizinha que fazia o mesmo itinerário que o seu, só que no carro dela... No trabalho de tirar o carro da garagem todos os dias e depois estacionar nas vagas mais estreitas possíveis, no suor escorrendo pelo rosto, braços, mãos, costas, nos dias de verão... Podia ser uma boa. Só não dava para comer o brinde de todo dia: Bombom engorda!
Final de expediente. Faltava pouco para ser a última vez que enfrentaria a artilharia pesada do trânsito. Mal podia esperar para começar a escrita de outra história. A única preocupação era com a dieta. Mas teria outros ganhos significativos. Economizaria na gasolina, não precisaria mais gastar seu suado dinheirinho em bares e restaurantes, pelo menos não nas preliminares; claro, não se estressaria mais na direção e, com sorte, ainda podia se dar bem com a companhia.
Quando soube da inovação, no meio de uma acalorada discussão entre dois amigos, ficou em cima do muro. Luiz defendia a implantação dos tais “assentos do amor” como a mais avançada – e abusada – ideia para descongestionar o trânsito; Sérgio criticava a postura dos governantes, dos empresários, dos usuários, dos motoristas, enfim, de todos os que compartilhavam da louca ideia, de implantar-se bancos contíguos em ônibus – seguindo o exemplo da Dinamarca – com a descarada desculpa de melhoria da qualidade de transporte.
– Coisa de inglês, isso, rapaz – inflamava-se Sérgio – coisa de inglês! Eu não vou trocar meu carro por um coletivo brasileiro é nunca! Nem por bancos vermelhos, nem por companhia nem por bombons Copenhague.
– Ô Sérgio, só você não vê cara, que não tem mais jeito! Chegamos ao fim do caminho! Ou se faz alguma coisa desse tipo ou ninguém mais anda nessa cidade. Melhor, quem não quiser vai ter que dormir no escritório, malandro. O preço da passagem vai ser o mesmo, não vai ter mais aquele empurra-empurra que se via pela tevê, do qual todo mundo reclamava. Vai ser uma beleza! Tudo limpinho, cadeirinhas vermelhas, todo mundo sentado, possibilidade de um bom papo, a gente nem vai ver o tempo passar!
– E a quantidade de ônibus, hein? Já pensou nisso? Onde fica a liberdade de locomoção dos carros, hein? Onde fica a liberdade de escolha do cidadão sem dívida pública nenhuma, hein? Você acha que isso vai dar certo, acha? Coisa de campanha política, meu amigo! Só campanha!
Do outro lado um outro amigo ouvia a discussão, envolvido mesmo com a cervejinha nossa de cada dia. Ele se aproximou:
– Ô Wagner, o que está acontecendo, hein? Eu ainda não entendi muito bem porque é que eles estão tão exaltados.
– Lê jornal, não é? Seguinte: lá na Dinamarca, para incentivar o uso do transporte público, implantaram assentos contíguos em todos os ônibus. A ideia é que isso melhore as relações entre passageiros, propicie encontros, namoricos, sabe como é? Daí, o cidadão fica animado para trocar o carro pelo coletivo.
– Mas isso é lá. Por que essa discussão?
– Está por fora, hein, meu? É que estão votando aí uma lei que proíbe o uso de carros nas vias mais congestionadas da cidade, por onde só vai poder trafegar esses ônibus aí, com os assentos duplos, que já apelidaram de “táxi da nigth”.
Ele parou, pensou. De repente podia ser uma boa
– Você é a favor ou contra?
– Eu? Nem a favor, nem contra. Muito pelo contrário, eu vou é na onda. Danço conforme a música, que é bem melhor do que ficar esquentando cabeça.
Ele parou, pensou de novo, se viu lá, ao lado da vizinha que fazia o mesmo itinerário que o seu, só que no carro dela... No trabalho de tirar o carro da garagem todos os dias e depois estacionar nas vagas mais estreitas possíveis, no suor escorrendo pelo rosto, braços, mãos, costas, nos dias de verão... Podia ser uma boa. Só não dava para comer o brinde de todo dia: Bombom engorda!