TEMPO LENTO, TEMPO VELOZ
Segundo meu irmão Lula, na natureza, nada mais veloz do que um exuberante cavalo. Veio-me à ideia ser o tigre, assim dizem os almanaques. Mas, respeitei compreensívelmente sua predileção, desde a infância, pelo cavalo. Falando-se de natureza, sobressai-se a luz como mais veloz de tudo, ganhando, em todas as raias, do som. Há quem reclame a velocidade do “cavalo tempo”, inclusive criando provérbios. O clássico latino “fugit irreparabile tempus” (o tempo foge irreparavelmente), como escapasse de modo furtivo e inalcançável; o poeta Lamartine compara-o a um rápido pássaro: “Tempo! Suspende o vôo: em tantas alegrias,/ Parai, horas propícias!/ E deixai-nos gozar de nossos belos dias/ as rápidas delícias.”
Meu fraterno amigo Professor Luizito Dias Rodrigues advertiu-me, numa das nossas viagens à Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Guarabira, hoje UEPB, que juntos fundamos sob a liderança do Professor Padre José Paulino, o tempo passar mais rápido depois dos quarenta anos de idade. Chegamos à conclusão ser a partir dessa fase da vida quando começamos a assumir maiores responsabilidades. De modo que, na infância, sem preocupações, as tardes são longas, e dias que parecem uma eternidade. Também goza desse privilégio o completamente ocioso. Faz menção a este assunto o famoso livro de Alceu Amoroso Lima: Idade, Sexo e Tempo. É tanto que, ao ocupar-nos, acelera-se o tempo; ao desocupar-nos, desacelera-se, a ponto de tê-lo de sobra. Saber o equilíbrio na quantidade e qualidade das nossas atividades é o melhor remédio à alastrante doença do estresse. Caso contrário, mais rapidamente se confirma do que se apercebeu Herbert Spencer, em Definições: “O tempo é aquilo que o homem está sempre tentando matar, mas é o tempo que o acaba matando.”
Reconheço que falar deste ousado assunto importuna tanto o indolente como o obstinado trabalhador. O muito ocupado chega até a se irritar quando se lhe lembra a pontualidade dos seus compromissos, advertindo-o de que o tempo está passando. Nesse sentido, Ivan Turgueniev, em Pais e Filhos, ao metamorfosear o pássaro de Lamartine, conclui: “O tempo que frequentemente voa como um pássaro arrasta-se, outras vezes, como uma tartaruga. Mas, nunca parece tão agradável como quando não sabemos se ele anda rápido ou devagar.”
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