O pedinte, o bêbado, o louco e eu!
O pedinte, o bêbado, o louco e eu!
Peregrinando pelas ruas, descobri coisas que só o livro da vida pode ensinar. Então, tentei olhar sem o desdém que, muitas vezes, vejo o mundo que passa em frente aos meus olhos. Notei, nesse ínterim, um pedinte, esse veio em minha direção e me pediu uma esmola; dei o que sobrava, uma moeda, moeda que, muitas vezes, iria enferrujar na minha carteira ou morreria num daqueles cofrinhos de criado mudo. A moeda não me fez falta e sei que não solucionou o problema do pedinte. Será que tudo que eu tenho são sobras? Não, eu pensei! Falta-me muita coisa: não sou altruísta como deveria ser, nem solidário (...) pelo contrário, vivo pedindo coisas, muitas vezes, desnecessárias. A minha ganância inclui até o amor, quero ser amado mais do que devia.
Resolvi seguir o caminho e encontrei, ao meu lado, um bêbado. Esse chorava, cantava, sorria, caia, fazia sua graça. Pensei, nesse instante, na vergonha que tal estava passando. Mas não! Quantas vezes já chorei? Muitas, claro! Porém escondido; fraqueza não cabe no mundo, pensei. Canto no chuveiro, mas não sei cantar a vida e, muitas vezes, caí tropeçando em meus fracassos. Realmente, não estou muito distante desse bêbado, apenas, escondo o que tenho de melhor, os meus sentimentos, enquanto, ele escancara, para o mundo, o que sente.
Fui caminhando e vi berrando pelas ruas, um dito louco, que bradava para o mundo ouvir a sua indignação contra o ser humano. Exigia mais dignidade e educação; falava de amor e de ecologia; gritava paz para o mundo. De louco ele não tem nada, pensei. Lucidez, talvez, seja um desvio de comportamento. Eu, então, percebi o quanto sou passivo, a vida querendo mais atitudes e eu me escondendo atrás de regras que aprisionam a sensatez. Sou o avesso do louco, plácido demais quando é necessário gritar não para muitas coisas.
O pedinte, o bêbado e o louco nada mais são que pessoas que a sociedade não educa e nem coloca o seu cabresto. A liberdade está, muitas vezes, em quebrar as grades que nós mesmos criamos.
Mário Paternostro