A TREVA E A LUZ DA HUMANIDADE - PARTE I
Saindo pela porta de tráz do barraco, olhando nas trevas do beco a vala de lama em que seus pés afundaram, procura um lugar para jogar o pedaço de ferro certamente ensanguentado que tinha às mãos. Não encontrando nada melhor joga por cima do telhado do barraco que lhe faz fundo, ouve o barulho do metal contra algo e depois imprecauções em várias vozes, Corre.
Atraz ele deixou uma família assassinada cruelmente a golpes desta barra de ferro, uma senhora que vinha a ser sua avó e mãe de criação, seus dois filhos de 3 e 5 anos, sua mulher inda grávida de seis meses, seu irmão mais novo.
Mais uns metros a frente e ele de nada se lembrava, sabia que estava correndo e sabia que assustava aos transeutes da favela, e estava já em estado de pânico por ter uma leve compreensão de que fez algo terrível, o efeito do craque já estava passando e em breve viria o sofrimento e teria de adquirir mais, sempre mais. Não pagara os ultimos que comprara e estava já visado, mas mesmo assim precisava de mais, agora se lembrara que foi para comprar mais e pagar a dívida que tentara vender a TV de 14 da casa em que todos estavam assistindo a novela, eles não deixaram e ele se viu obrigado a brigar com todos e finalmente nada conseguira.
- Porra, que merda, vou voltar e pegar a TV, dexta vez eu os mato se não me deixarem levar.
Mortos já estavam..
Era só para ter companhia para seu tempo de aposentado recente, conversara com Alice sua mulher e ela ficou entusiasmada, nem parecia que já tinha sido mãe de oito rebentos e que os cinco ainda vivos estavam formados e casados, O ultimo saíra de casa para morar num “AP” como ele dizia, formara em Odontologia e já ajudara a instalar seus dois consultórios, um no bairro e outro num Edificio Center de Consultórios no centro da Cidade. Agora já na meia idade estavam novamente como tudo começou, só os dois. Recomeçemos então disse a Alice, vamos curtir uma segunda lua de mel e vamos ter mais pelo manos um filho, este será o filho do coração.
Ao entrar na instituição ficou boquiaberto, quantas crianças lindas!!!! E quanta tristeza no olhar!!!, além do mais quanta esperança ao ver um casal de estranhos, pareciam atores mirins correndo alegres para abraça-los em uma boa vinda toda especial. Crianças de 5,6,7,8 14 anos, Crianças que desde que entenderam a vida, foi alí com enfermeiros e profissionais carinhosos, ternos, que conheceram uma família, compreensivos, mas não pais. Não pode se furtar a lembrança de uma galinha chocando um ovo de pato, e do patinho adotando a galinha como sua mãe. O patinho feio e mais tarde um lindo cisne.
Sentados na diretoria ouvia da diretora histórias tristes e horripilantes, cada inocente daqueles tinha uma história humana desoladora, famílias desfeitas, pais desesperados, vendas de crianças, venda para aproveitamento do tráfico de órgãos e assustava-se ao notar que a imprensa não dava devida atenção a este tipo de comércio que era seguramente um dos mais lucrativos do mundo e certamente bancado pelo mesmo governo invisível que fazia o loby do tráfico e legalidade de narcóticos e armas, o trio dantesco, criado e planejado para destruir a humanidade.
Inda escutando a história da adoção no mundo e particularmente a dali daquela instituição, Abelardo e Dona Alice choraram por mais de meia hora. Eram as meninas loiras e de olhos claros a adoção mais rápida, eram, os meninos a mais difícil, mas difícil mesmo eram os meninos depois de tres anos, nenhum casal se propunha a adotar criança já a andar, queriam recem nascidos e bem apessoados. Isto excluia os mulatos, negros, pardos e outra cor qualquer, e excluia os meninos, muitos deles competavam maioridade sem saber o que era o suporte de uma família, o esteio moral e conforto maternal, nada. Pulavam esta fase, não esxistia lembranças de brincadeiras com irmãos, fotos com papai e mamãe, fotos de praia e viagens, históriasa engraçadas ou tristes, os primeiros ensinamentos da vida, a primeira menstruação sob risos e orientação carinhosa de mamãe, os primeiros pelos, tudo isso era coisa para gente normal.
Mas ainda tinha o fator mais hediondo estes com as meninas grandes, estas eram adotadas enganadoramente geralmente para ser empregada doméstica exclusiva, gratuíta e para viver sob ameaças com qualquer benesse jogada na cara. Dificilmente eram pegos estes adotantes mal intencionados, que julga criança mercadoria tal qual os senhores de engenho brasileiro durante a escravidão.
Olhando para as crianças ficaram na vontade de adotar todas sem exceção, haviam 29 entre 6 meses e 15 anos, haviam dois gemeos sendo um casal e um de meninos. Entrou com um processo de adoção dos quatro e mais quatro maiores de 11 anos, imediatamente.
Chorando ainda e sem ligar o carro, ambos se abraçaram decididos a lutarem para ter condições financeiras e vir buscar o restante daquela instituição. Vamos minha véia, recomeçar nossa vida com mais oito filhos deste feita de uma vez só para economizar tempo que não temos muito, e desta feita com os filhos do coração que Deus nos pôs ao caminho.