CITIUS, ALTIUS, FORTIUS...E SUBDESENVOLVIDIUS

Mais uma Olimpíada se vai e com ela renovam-se algumas certezas quanto à participação brasileira no teatro olímpico. Certezas que, praticamente, se tornam leis que regem nosso Esporte em termos mundiais. Na Grécia assistimos, mais uma vez, ao triunfo dos países que investem pesado em dois itens para despontar no quadro de medalhas: Esporte e Educação, que na verdade, são quase sinônimos um do outro.

Pois bem, quando um estudante europeu ou norte-americano se destaca em seu “high-school” em qualquer Esporte que seja, ele é rapidamente separado dos demais, tem um tratamento diferenciado, recebe provisões para uma alimentação adequada, tem sua bolsa de estudo garantida e, em muitos casos, recebe ajuda de custo para “viver do Esporte”. Nos países primeiro-mundistas, eles não descobrem atletas ali na esquina, mas constroem cidadãos que serão atletas de primeiríssimo time no futuro. Vemos Centros de Treinamento que são verdadeiros palcos de tecnologia do Esporte e saúde, vivendo o amanhã nos dias atuais e trazendo á tona o supra-sumo do que é ser atleta, do que é o Esporte. E a China, que não é primeiro-mundo? Não é ainda, porque a China, na minha opinião modesta, porém honesta, é o verdadeiro país do futuro, arrebentando em termos de tecnologia e produção.

Enquanto isso, abaixo da Linha do Equador...bom...sabe como é, né?...Esporte demanda dinheiro...nós podíamos criar um imposto para incentivar o Esporte...imposto provisório, claro...e por aí vai. São as mesmas desculpas que eu escuto desde as olimpíadas de 1980, em Moscou, quando pela primeira vez, desde que me entendo por gente, deparei-me com estes seres que desafiam Newton e a sua lei da gravidade. Se o caminho do Esporte não fizer escala na Educação, este país estará fadado a participar de mais mil Olimpíadas e vai precisar levar apenas uma pochette para trazer as medalhas conquistadas, infelizmente. É preciso criar vergonha na cara e eleger políticos que tenham esta mesma vergonha estampada em suas testas. Gente que tenha vontade de mudar algumas leis e aplicar aquelas que já existem. A Educação precisa mudar em um ângulo de 180º porque na direção na qual estamos, caminhamos para um abismo sem fundo; pois é na Escola que se encontra o futuro atleta.

Mas quem quer ir pra Escola de livre e espontânea vontade na situação que ela se encontra? Quadras e espaços esportivos depredados, merenda insuficiente ou inexistente, professores desmotivados pelo achatamento de seus salários, o esvaziamento de seus poderes em sala de aula e nenhuma perspectiva de melhora no horizonte. Enquanto isso, dependemos de pessoas que, individualmente, surgem e fazem a glória do Esporte nacional, mas não podemos esperar, somente, esses milagres, verdadeiras flores que brotam de um asfalto cultural. É preciso massificar o Esporte, principalmente os Esportes chamados “clássicos” numa Olimpíada que se resumem em Atletismo e Natação e fazer esta molecada parar de apenas querer ser jogador de futebol e conhecer pesos, flechas e discos; raias nas quais pisamos e nadamos. Massificar o Esporte traz em seu bojo uma melhora significativa na Educação, é urgente que muitos “da Silva” estejam no pódio, mesmo porque, se ao anunciar que o vencedor foi Robert Scheidt ou Torben e Lars Grael e subir uma bandeira de um país anglo-saxão, não seria de todo estranho. Nada contra eles, pelo contrário, mas são filhos e netos de velejadores, ou, traduzindo para o português: Têm dinheiro de sobra (e talento também) para bancar seu Esporte. Não que tenhamos que distribuir pranchas e velas a torto e a direito, mas é preciso dar chance para meninos do Brasil na pluralidade do Esporte olímpico.

Só uma coisa é pior que a falta de medalhas: a modorrenta ladainha de que “só o fato de se chegar a uma Olimpíada já faz do atleta, um campeão” ou “fizemos nossa parte”, etc... Bom, se somente o fato de se chegar a uma Olimpíada basta, então não precisa ir até lá e disputar. Esse papo de que o importante é competir é conversa pra boi dormir e filosofia barata de gente que gosta de derrota. O importante é competir e vencer, mas para vencer tem que se preparar para ser o melhor.

Citius, Altius e Fortius ! Assim eram aclamados, em Latim, os vencedores da antiguidade: O mais Rápido, o mais Alto e o mais Forte.

Por enquanto, somos sub-rápidos, sub-altos e sub-fortes. Traduza como quiser.

Texto: Marcelo Lopes

Professor de ciências exatas no ensino médio, pós-graduando em Química pela UFLA-MG.

Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 07/06/2005
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