O Preconceito da Ociosidade
Há pessoas que, mesmo já tendo alcançado o tempo de contribuição à Previdência e idade para aposentar-se, ainda têm medo da pergunta: “o que você está fazendo agora?”
Sentem-se na obrigação de arranjar outro trabalho, mesmo que não seja para a complementação de seus proventos. Apenas para não sentir-se na ociosidade, como se não existissem outras formas de atividade.
Não temos culpa se desde 1934 foi criado o Instituto da Aposentadoria no Brasil, através do Decreto 24.273, de 22 de maio daquele ano. Para conseguir a liberdade de poder fazer o que mais quero, trabalhei por mais de 35 anos, contribuí para a Previdência Oficial e, por menor tempo, para uma Previdência Privada, hoje considerada a maior da América Latina. Mas nem por isso fui sentar-me numa cadeira de balanço “esperando a morte chegar”. Também não fui dizer: “já que estou aposentado eu quero me desprofissionalizar.”
Fui estudar inglês, informática e depois voltei à Faculdade, como forma de atualizar-me, uma vez que não podemos ficar fora dos avanços da modernidade. Mas, compromisso com novo trabalho, nem pensar. Só comigo mesmo. Foi graças a essa atitude que hoje faço parte do Recanto das Letras, que se constitui numa grande rede cultural, que me incentivou à leitura de livros que antes apenas enfeitavam a minha estante. Dizia eu que não tinha tempo de ler, levado pelos inúmeros afazeres da responsabilidade profissional. Agora, portanto, é hora de aproveitar esse tempo que muitos chamam de “ociosidade”. Reproduzindo um antigo slogan da Globo que dizia, “quem lê sabe mais, quem lê o Globo sabe muito mais”, numa referência ao seu jornal, posso também dizer que quem aderiu à Internet e ao Recanto das Letras também sabe mais. Lamentável é ver muita gente que se aposentou e tem até medo de chegar junto ao computador. Com certeza, os nossos Recantistas não fazem parte desse time. Portanto, não estão na ociosidade.