Porque os homens traem

Um estudo do Instituto Karolinska de Estocolmo afirma que um dos culpados pela infidelidade dos homens é um gene, o alelo 334, que administra a vasopressina, hormônio que se reproduz naturalmente através, por exemplo, dos orgasmos. Desta forma, os homens que possuem esta variante do gene dificilmente conseguiriam manter uma relação estável, diz o estudo dos cientistas suecos divulgado ontem. Para os infiéis que sempre buscam uma desculpa, o estudo pode levar a uma razão científica para este comportamento: "Amor, a culpa é do alelo".

Eis aí então mais uma contribuição da ciência. Já que as mulheres são incapazes de entender que os homens, bem como as mulheres, traem porque não foram programados para serem monogâmicos, bota-se a culpa num problema genético, o tal do “alelo 334”, e daí é como querer mudar a cor do olho. Impossível.

Eu defendo uma teoria de observação social. Para dar um nome mais científico e não parecer só uma besteirinha, vou chamar de ‘etologia humana’. Nota-se visivelmente, pelo tanto que traímos, que a fidelidade só ocorre em duas circunstâncias. A primeira seria por medo. Medo de perder o conforto que se tem e se jogar numa aventura onde não se pode medir as conseqüências, ou medo de ser avacalhado(a) em praça pública. O segundo medo já não ocorre muito porque ninguém mais dá bola para traições. Adultério nem é crime mais. Já foi.

A segunda ocorrência da fidelidade se dá por mérito. O parceiro é de tal forma competente e carinhoso, que a aventura não faz sentido. Obviamente que continuaremos sempre a sentir atração pelas outras mulheres ou outros homens, mas não vamos além do olhar, talvez um breve imaginar, e só. A fidelidade seria um presente, um agrado que se faz ao outro, não por obrigação, mas por devoção. Se quiserem usar o termo que eu não gosto, podem dizer que é por amor que cola.

O que esse estudo prova, ou se não prova mostra, é que os homens que têm alteração no tal do alelo 334 têm dificuldade de se apegarem a relacionamentos estáveis. Não conseguem, ainda que gostassem ou desejassem, se verem amarrados a uma única pessoa para o resto da vida. Obviamente se houver o “eterno regar”, os cuidados diários com o relacionamento, poda-se daqui, ajeita-se dali, aduba-se acolá, o relacionamento estará sempre bom.

Bom porque nunca é o mesmo. Sempre está novo e mudado. Dá para notar, sem estudos ou maiores academicismos, que pessoas que gostam de mudar móveis de lugar e “refazer” a casa com tudo o que já tem, só reorganizando, são pessoas bem mais dinâmicas e bem mais felizes. As pessoas que, depois de 20 anos de casadas nunca afastaram o sofá nem pra ver se tem alguma criança esquecida lá atrás, são mais tristes e acomodadas. O enfado e a mesmice entristecem a relação. Tudo o que fazemos em nossas vidas reflete na relação sexual e afetiva. Desde a criatividade até a burocracia. Dessa forma, embora chutando, sou capaz de apostar que quem muda de emprego demais não deve ser mesmo muito fiel.

Deixe-me rememorar rapidinho o que já escrevi em outras crônicas. O homem é um ser naturalmente sanguinário e assassino, mas que tem inteligência e autoconsciência. Para não se exterminarem descobriram que podiam se organizar em civilizações, criar regras e viver pacificamente pra um não matar o filho do outro. Para isso é preciso domesticar e adestrar as crianças para viverem em sociedade. E é preciso prisão para os que discordarem. De forma direta descobriu-se que, se casassem, poderiam ter sexo diariamente sem ter que procurar fêmeas, e as fêmeas teriam quem cuidasse e provesse a si e aos seus filhotes.

Foi um bom negócio e se inventou a família. Faltava agregar e unir o invento. Daí criou-se o amor. O amor faz o papel do ovo na massa de farinha. Para não perder o que se tem, seja o conforto do lar que a fêmea cuida ou a proteção do provedor de seus filhotes, nasceu o ciúme. Ciúme não é amor. É um efeito colateral da invenção. Se o homem alimenta e cuida de uma família, não consegue nem imaginar que outro homem desfrute de sua mulher ou filhos, e se a mulher tem um provedor que lhe garante estabilidade e futuro, mata a aventureira que ousar lhe tirar a proteção.

Mas isso é muito técnico e frio. Amor tem que ter coraçõezinhos, flores e arfar de alma, adrenalina no sangue. É a roupa bela. Como ninguém gosta de nudez, amor vestido é o que todos usam e demonstram. Mas lendo aqui, se pararem pra pensar, verão que eu tenho razão. Não precisa concordar. Vendo já basta.

Assim sendo, voltando ao tema, obviamente que seria ridículo culpar o pobre ‘alelo 334’ pelas farras que fazemos, mas seria bom que as pessoas fossem fiéis apenas por estarem plenamente satisfeitas com seus relacionamentos. Como sabemos, todos nós, que isso não é verdade, a traição se dá para podermos compensar fora de casa o que não encontramos dentro dela. Vejam que as cantadas são sempre as mesmas. “Ah, eu sou casado, mas sou infeliz, minha mulher é ruim de cama, etc...” e abobrinhas correlatas. “Ah, eu sou casada, mas ele nem me procura mais depois que tive filhos e engordei um pouco (30 quilos), só quer saber das mais novinhas...” e abobrinhas correlatas.

Arthur Schopenhouer diz algumas coisas muito legais sobre isso. É cruel, mas é verdade. Os homens se inclinam sexualmente às mais jovens por instinto de procriação. Mesmo feias, as mais novas sempre oferecem a beleza da juventude, da adolescência. Depois que isso se vai, ficam feias como sempre foram. Só perderam a juventude. E as belas conservam a beleza que sempre tiveram. Se se cuidarem, a beleza dura muito. Se não se cuidarem, têm que tentar vender a tal beleza interior. A beleza da alma. Aquilo que dão o nome de “um ser humano incrível”, seja lá o que isso queira dizer.

Trai mais quem é o dono do dinheiro. Quem banca a família e as diversões que ela desfruta. Quando as mulheres cobrem metade das despesas, ou mesmo já ganham mais que o marido, aí há fidelidade por conveniência mútua, ou os dois traem quanto quiserem porque, se perderem um ao outro, se arranjarão novamente com o próximo. E o que não falta na vida é o próximo. Como se diz, a fila tem que andar.

Enfim, homens hipócritas do meu Brasil, não limitem mais suas desculpas de que foram acachapadamente seduzidos e embriagados pela graça e beleza da outra, e quando viram já estavam dentro do motel, na banheira, morrendo de remorso após a terceira vez. Pague um por fora e arrume um médico geneticista dizendo que você tem o “alelo 334” alterado. Pode não ser mais bonito nem mais ético, mas ao menos dá um ar de seriedade no relacionamento.

Nós temos que ser fiéis aos nossos princípios e, a princípio, o ser humano não nasceu pra ser fiel. Aprende que tem que ser, mas não consegue. E quando consegue, é na marra ou por falta de oportunidade. Felizes daqueles que conseguem, de verdade, deixar seus cônjuges livres e soltos, como diz o verso bonitinho que corre pela internet: “Se voltarem é porque os conquistei; se não voltarem é porque eu nunca os tive”. Amém.

05.09.2008