Maconheiros famosos
Alguns comerciais ficam gravados em nossas mentes para sempre. Não há quem não se lembre dos bichinhos da Parmalat e nem do comercial do Eparema, salvo engano, em que a pessoa comia uma “buchada de bode” de depois jogava a culpa da má digestão na salsinha do tempero. Debater o assunto “maconha” não é fazer apologia às drogas. Gilberto Gil declarou que fumou maconha até os 50 anos, Fernando Gabeira faz campanha para legalizar o uso da planta desde sempre, Fernando Henrique Cardoso sancionou a lei que proibe a prisão de portadores de pequenas quantidades da erva, bem como plantadores de até 5 pés de cânhamo para uso próprio, e essa semana voltou a falar sobre a legalização novamente.
Fora esses que me vêm à mente agora, que foram publicados em mídia nacional, sou testemunha OCULAR de uma quantidade enorme de juízes, promotores, delegados de polícia, médicos e tantos outros que são obrigados por lei a combater o uso da planta, além de uma imensidão de idosos que não deixam de puxar um fuminho no final da tarde nem a pau. Se Vinícius de Moraes dizia que o uísque é o cachorro engarrafado, diria que a maconha é o uísque enrolado pra fumar. O efeito, aliás, é muito similar.
Maconha é vítima de duas coisas muito graves. A primeira é a desinformação generalizada e a segunda é o preconceito. As duas drogas legalizadas, as bebidas alcoólicas e o cigarro, são infinitamente mais nocivas que a maconha. Mais que isso, a fumaça de óleo diesel e os gases eliminados pelos escapamentos dos veículos em geral, fazem muito mais mal à saúde que as mentirosas 4.700 substâncias tóxicas que o Ministério da Saúde diz ter no cigarro.
Uma pessoa que enche a cara, fica bêbado além da conta, chega em casa e espanca a mulher, estupra a filha, ou o que seja, faz isso porque está alcoolizado, drogado, e de forma legalizada. Se também fumou maconha além de beber não faz a mulher apanhar mais ou menos, e se morrer de cirrose não se encontrará em seu fígado qualquer vestígio da erva. Maconha não é nem alucinógina. Ninguém vê borboletas ou passarinhos e nem o céu fica cor-de-rosa. Ela apenas muda, de pessoa para pessoa, a dimensão de tempo e espaço, e dificulta a memória de curto prazo, aquela do tipo “o que é mesmo que eu estava falando?”, e mesmo assim só durante seu efeito que raramente passa de uma ou duas horas. Fora isso, se a pessoa quiser se matar de overdose de maconha, o máximo que conseguirá é dormir. Maconha dá um sono muito bom e relaxante.
Essa é a desinformação que todos os médicos sabem, mas precisam fingir que não sabem ou não conseguem mais nenhum paciente, que o juiz não pode declarar porque pode até perder o cargo, e assim por diante. Fuma-se maconha há milênios, todos os índios fumam maconha e, o que é mais importante para os que crêem no criacionismo, quem criou a maconha foi Deus. O que se fuma nada mais é que a flôr de uma variedade de cânhamo que tem uma concentração maior de THC, que produz esses efeitos passageiros e inofensivos. Todavia se um aluno vai “maconhado” para escola, não vai aprender nada mesmo. Mas não porque a maconha dificulta o aprendizado. Ela apenas tira a concentração e sem concentração ninguém aprende mesmo. Maconha é para ser usada a partir de uma idade que a pessoa sabe a hora certa de fazer cada coisa. Depois de estudar, à noite com os amigos antes de dormir, depois de um longo dia de trabalho, etc.
O preconceito se dá porque os negros escravos americanos, que já fumavam maconha há milênios, eram um pouco menos produtivos, ou mais “lerdos”, e na terra do capitalismo isso é um crime. Time is money. Então, como é escravo, preto e degradado, se proíbe o uso, mas se fuma escondido do mesmo jeito que se bebia álcool nos anos 30 na época da “lei-seca” americana. Como os EUA mandam no mundo, qualquer país que tenta iberar o uso de maconha sofre uma pressão terrível americana, que beira bloqueio comercial e outras sanções, de forma que, coagidos dessa forma, fora a Holanda, pouco se sabe de países que permitem o uso da maconha. Já a tolerância é bem maior em países mais desenvolvidos e onde a “santa” Igreja Católica não mete o bedelho onde não é chamada. Alguns padres, e não são poucos, também fumam maconha.
Maconha não é droga. Droga, seja as que se vendem nas farmácias ou as ilegais alucinóginas como a cocaína, heroína, crack, melro, ecstasy, LSD e as que mais surgirem, inclusive o álcool, de longe a pior de todas, têm a mão do homem em sua elaboração. E é aí que vira droga e prejudica a saúde. Mas o maior malefício da proibição de drogas é que ela alimenta o tráfico, e se gasta muito mais dinheiro com isso que com saúde e educação. Mais que isso, é um curral de corrupção e descaminho que faz o “Bordel do Michel” parecer uma pré-escola. E já que tem que montar um esquemão de falcatruas e crimes para funcionar, inclue-se contrabando de armas pesadas no meio que é pra ajudar no frete.
Não há na medicina um único caso de morte pelo uso ou abuso exclusivo de maconha. Já quanto às drogas verdadeiras, principalmente o álcool, quantos de vocês, leitores, não só viram como talvez já até sofram o problema dentro de casa?
A liberação do uso da maconha, reconhecendo-a como uma flor natural que se põe para secar, se enrola e se fuma, ao menos tira da marginalidade figuras famosas, pessoas importantes, que fumam maconha desde a adolescência, brilharam em suas carreiras, e ainda hoje, aos 80 ou 90 anos, ainda acendem um baseado antes de dormir. Quanto às outras, essas sim drogas, que se combata e se faça o que quiser.
Mas dêem uma ajuda logo, porque está difícil de achar e o preço está pela hora da morte.
17.02.2009