O Zelador Agradecido

O Alfonso foi nosso sócio durante 12 anos. Vive fora do Brasil, mas tem um lindo apartamento de frente para o rio Pinheiros, onde ele fica toda vez que vem a São Paulo.

Logo que chega, faz um pequeno suprimento para cafés da manhã e refeições rápidas, como frutas, saladas de folhas e frios.

Pra ir embora ele também tem seu ritual. Recolhe o lixo do banheiro, depois o da cozinha, que de tão pouca quantidade pode facilmente ser acondicionado num saquinho de supermercado.

Fecha a maleta de mão e já a deixa encostada na porta da sala. Sabe como é a “terceira idade” e se não fizer este tipo de lembrete acaba esquecendo de levar a única bagagem que tem.

Por último pega os alimentos perecíveis, os ovos, requeijão e danones, amarra tudo num saco plástico e deixa com o zelador, ao passar pela portaria.

Na verdade os funcionários adoram esses moradores que viajam, pois sempre sobra coisa boa pra eles. E assim foi dessa vez. O Alfonso pegou sua maleta na porta, desceu e entregou o saquinho para o zelador, que se mostrou muito grato. Fez até uma reverência pra dizer “obrigado”.

Dois meses mais tarde o Alfonso voltou e percebeu que havia esquecido o saquinho de lixo em cima da pia da cozinha.

“- Que cabeça!” – pensou. E abriu o saquinho pra ver se havia deixado algum perecível naquela embalagem.

Mas não era o lixo. Era o saquinho com o requeijão, os ovos e os danones. Todos podres, já. Um cheiro insuportável.

O lixo, na verdade, tinha sido dado de presente para o grato zelador.

Talita Ribeiro
Enviado por Talita Ribeiro em 27/05/2010
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