DR TIM E DR FIMOSE

DR TIM E DR FIMOSE

Esta crônica se refere a situações vividas por um grande colega de meu filho, aliás mais do que colega, é seu cunhado; formado médico em uma das mais tradicionais faculdades de medicina do interior de São Paulo, é um tremendo contador de casos, que espero transmitir com a mesma verve com que o Dr Tim as conta; infelizmente o gestual não dá para reproduzir.

Ah! Como eram alegres e descompromissados os tempos da faculdade, tudo era uma festa pois esta era a única forma de suplantar o sufoco dos estudos universitários.

Como em todo batismo universitário, os calouros pagam o mico da iniciação, e uma das formas mais suaves dessas provas é a assunção dos apelidos. O nosso personagem, um jovem de baixa estatura, por volta de 1,65m, logo recebeu o cognome de Mentira, pois como diz o dito popular “mentira tem a perna curta”. Mas o Dr Mentira já trazia consigo um outro apelido, e logo passou a ser chamado por Dr Tim. Perguntado, ele não soube explicar a origem do nome.

Todos moravam numa república, seis residentes e outro tanto de temporários, todos jovens cheios de planos e esperanças. Havia o Alemão, o Minduim, o Kuxoxo, o Fimose, cada um carregando consigo o estigma de alguma característica pessoal.

O Dr Tim, hoje um ginecologista de grande influência, logo se identificou com mais intensidade com o Dr Fimose, que hoje é um excepcional urologista, e ambos formavam uma dupla inseparável. Todos se referiam a eles pelos apelidos, e eles até assinavam os prontuários e receitas como “Dr Tim” e “Dr Fimose”.

O Dr Fimose carregava este apelido pois tinha a “língua presa”, nada a ver com a fimose propriamente dita. Ironicamente, enquanto alguns de “língua presa” estudam e se dedicam com total devoção à profissão, outros, que não dão nenhum valor à cultura e à educação, conseguem grande projeção, e chegam a ser, até, Presidente da República...

Dentre os muitos casos contados pelo Dr Tim, tem um que acho bastante interessante.

Desde aquele tempo, como até hoje, existem trabalhadores que vão aos postos de saúde em busca de atestados para justificar a falta ao trabalho. Numa certa segunda-feira ambos os colegas estavam de plantão, e abriram a janelinha que dava para a sala de espera onde ficavam todos os “doentes” aguardando atendimento. A sala estava repleta, uma grande quantidade de homens, não cabia mais ninguém.

O Dr Fimose não teve dúvidas, abriu a porta e anunciou em alto e bom som (dentro de suas limitações de fala) que aquele dia era o dia do exame de próstata, e que todos os homens passariam pelo “exame do dedão”. Fechou a porta e ficou aguardando. Quando a abriu novamente, daí a alguns minutos, milagre, não havia quase ninguém, só algumas mulheres e uns poucos homens. Todos os demais “doentes” não quiseram “pagar para ver...”. Conforme o anunciado, todos os homens foram submetidos ao exame prostático na “posição de empurrar jipe”.

Tanto o Dr Tim quanto o Dr Fimose carregam até hoje dúvidas sobre a “machice” dos homens que se submeteram mansamente ao exame. Eles contam, rindo, que uns dois ou três estavam lá todas as segundas-feiras, ansiosos, esperando o dito cujo...

Logo, logo, volto a outros “causos”.

LUIZ BLANDINO DE OLIVEIRA
Enviado por LUIZ BLANDINO DE OLIVEIRA em 26/05/2010
Código do texto: T2281250
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