O OVO
Manhã de domingo. Finalmente ela teria tempo para si. A semana era aquela correria de sempre. Não é fácil ser eu, pensa ela todo dia, ao acordar. Cuidar da vida, de tudo, os filhos..ah..os filhos..claro que os ama muito...mas ..se tivesse esperado um pouco mais...agora não tinha outro jeito não..era seguir em frente.
Mas hoje é domingo e eles estão com o Marcos, todo sábado, as 14 horas, não falha, lá vem o Marcos pegar as crianças. Vê-los partir, toda semana, de certa forma a faz voltar no tempo, num tempo em que tempo não era problema..agora tem a sensação de estar sempre atrasada, só não sabe bem pra que.
Mas é manhã de domingo..tenho tempo agora, pensou ..enquanto colocava a manteiga na frigideira já quente, derretendo...em seguida vinha seu companheiro de todas as manhãs : um ovo. Desde menina tinha essa mania..mania de comer ovo pela manhã. Ia ouvindo o chiar da fritura, sentido aquele cheirinho..lembrou do sitio, lá em Minas..quando menina ia sempre lá no galinheiro pegar os ovos fresquinhos, se achasse um azul,esse era seu e ninguém tascava .
O ovo ia endurecendo, mudando de cor...por um segundo ela se lembrou do pinto que não nasceu....pensou em outras promessas de vida que também não se realizaram..tipo se casar e ser feliz para sempre...ela sorriu, Marcos era agora um ovo frito..gostou da idéia! Depositou carinhosamente o ovo sobre o pão, bebeu um grande gole de café e saboreou aquela refeição como a muito não fazia, afinal era domingo..tinha tempo.