NUM DIA PEIMEIRO DE MAIO...

Num dia primeiro de maio.

Foi num dia primeiro de maio que conheci Ana Lúcia. Ela completava vinte e quatro anos. – A única mulher a quem amei verdadeiramente.

Ana Lucia era pequena, mas sua presença inundava o local onde estivesse. Os seus olhos negros, amendoados e enormes, pareciam capazes de olhar através de mim. – Sentia-me nu, diante dela.

Ela exercia uma espécie de autoridade sobre mim. Eu não conseguia guardar segredos diante dela. - Ela conhecia o meu íntimo... Os meus mais ocultos pensamentos.

O seu sorriso, comparado a uma linda manhã, enchia de luz a minha alma. E sua voz meiga, acalmava o meu espírito.

Eu a havia conhecido naquele dia, mas tinha a certeza de que sempre a conhecera. – era minha alma gêmea.

Até aquele dia, eu me encontrava nas trevas. E ela trouxe luz à minha vida. – jamais conheci alguém tão doce, forte e inteligente.

Ela tinha cabelos negros na altura dos ombros, uma tez muito branca, uma boca rosada e um nariz pequeno e arrebitado. Suas formas eram arredondadas delicadamente. – o beijo mais doce que já provei.

A sua simples presença me bastava. Ela me preenchia de tal maneira, que devido à pobreza da nossa linguagem, não encontro palavras para descrever. – se céu existisse... Seria estar na presença dela.

Ana era um misto de mãe, amiga, companheira, namorada e amante. – tudo isso em uma só mulher.

Hoje, se me perguntarem, qual foi o dia mais importante da minha vida, respondo sem vacilar: - foi o dia primeiro de maio de 1978, quando eu tinha apenas dezoito anos.

Aquele dia foi realmente especial. Passeamos pelos jardins da Quita da Boa Vista. Caminhamos de mãos dadas e nos beijamos... – Ah, como nos beijamos!

Entretanto, eu tinha apenas dezoito anos. Não sabia nada da vida e nunca tinha me apaixonado antes.

Hoje, aos cinqüenta anos, me pergunto: - como posso ter amado tanto a uma mulher, que nunca fez sexo comigo?

- O sexo era irrelevante. Estar com ela me bastava...