BILHETE PARA UM AMIGO

Truvilho, venho através dessas mal traçadas linhas, dizer que às vezes você é um mal agradecido...

Fiz um esforço danado, busquei lá no fundo do ribeirão transparente, uma idéia fantasticamente criativa para tirar você do embaraço em que tinhas te metido. Encontrei-o assim, todo amarrado em cipó imbé e você ainda fica cheio de dengo?

Gostei dessa do ribeirão transparente... Fiquei lembrando quando entrava debaixo do mato, num capoeirão perto de casa, para ver as arapucas que tinha armado para pegar umas pombas para a janta. Quantas vezes via aquela água “limpiiiiiiiiinha” correndo mato abaixo, com a mesma preguiça que me tomava e me acocorava na beirinha do ribeirão e com um pedaço de graveto, ficava brincando com a água, apreciando as piavas que iam e vinham, deliciando-se silenciosamente naquele frescor da água límpida e corrente. E tempo bão.................

De repente, já nem via mais as piavas, nem a água.......... De uma folha seca no fundo do riacho, eu transformava poeticamente num submarino enorme, moderno, embarcava nele e ia descendo o ribeirão, chegava ao rio e ia, ia, chagava no rio grande............ E ia, ia, ia.......... E desembocava no mar. Quanta batalha travei com piratas barbudos. Ganhei todas.

Uma vez acabei viajando naquela folhinha seca até Honolulu. Fingi que era maior de idade, mesmo com meus 1,10m e entrei numa daquelas casas noturnas de gente grande e rica, cheia de moças com cintura fina e flores na cabeça e saia muito curta e pernas longas. Que longas.

Olha, se não escuto os berros ameaçadores da minha mãe me chamando muito irritada, eu tinha passado a noite lá e dormido com a morena mais bonita da casa. Ela já estava me olhando meio interessada, com aqueles zoinhos desviados e um sorriso danado de malicioso.

Muito contrariado levantei e voltei correndo pra casa. Mas jurei que voltava, pegando outro submarino. E dessa vez não tinha berro de mãe brava que me fizesse desistir........

Viu Truvilho, seu ingrato. Viu quantas coisas já fiz para te defender? Não te contei que, era uma vez, salvei você de uma cobra coral gigante que estava toda enrolada no teu pescoço e você pensava que era enfeite de índio? Desde aquela época que você já era assim mal agradecido.


 

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 25/05/2010
Reeditado em 26/04/2022
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